Editorial: Ciência como resposta

Um ano como 2020 tem revelado como, diariamente, somos salvos pela ciência e pela educação. Não há modernidade sem esses dois pilares. Por isso, os horizontes promissores apontados por jovens cientistas e pesquisadores cearenses, por meio de invenções e descobertas, são alento em meio a um ano já tão necessitado da própria ciência. Felizmente, não faltam novidades, sendo a mais recente o reconhecimento de um projeto que visa à descontaminação de solos sujeitos a acidentes ambientais, como o óleo derramado nas praias do Nordeste, em 2019.

O projeto de um biorremediador ambiental, desenvolvido pelo Departamento de Biologia da UFC, teve reconhecimento de excelência por meio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Agindo diretamente na descontaminação do solo atingido por petróleo e derivados, o produto é ecologicamente sustentável.

O laboratório de biologia responsável promove estudos de soluções sustentáveis para problemas ambientais desde 2003, o que revela como, na ciência, nenhuma descoberta é repentina, pelo contrário, é resultado de esforço contínuo e prolongado, em que mais importante que o menor tempo é o melhor tempo — um entendimento que nos serve de lição para a ansiedade mundial por uma vacina contra o novo coronavírus. O produto de descontaminação de petróleo e derivados é importante resposta para uma das maiores tragédias ambientais vividas pelo País, quando, pelo menos, cinco mil toneladas de óleo bruto vazaram de algum navio e se espalharam pelo mar, chegando a centenas de trechos de praias no litoral nordestino. O vazamento sem pretendentes atingiu flora, fauna, e ainda afetou diretamente a saúde e o trabalho das comunidades no entorno.

Ao valorizar a ciência, deve-se valorizar diretamente seus sujeitos, os cientistas. A pesquisadora e doutoranda Bella Giselly, da equipe que originou o projeto, afirma que o remediador ambiental tem como importante diferencial ser um descontaminante de origem biológica. Na prática, um remédio contra uma poluição ambiental que, ele próprio, não irá também poluir de outra forma o meio ambiente - daí ser considerado um “biorremediador”.

O Ceará, como um reconhecido exportador de cérebros para o mundo, deve se orgulhar, mas antes valorizar cada vez mais o investimento na pesquisa científica. Não faltam sujeitos ativos em seus — reconhecidamente — excelentes centros de pesquisa, com projetos que, de médio a longo prazo, podem impactar positivamente na vida da comunidade local, quanto mundial. Exemplo notório é o uso da pele de tilápia com fins no tratamento de queimaduras. O “revolucionário método” criado no Brasil é, sobretudo, uma criação cearense.

Não será possível reconhecer normalidade numa nação que, na nova década que se aproxima, não priorize fortemente o investimento na ciência como política pública essencial. Com isto, uma lição que traz o vírus: a pandemia afeta a economia, a saúde, a educação, o mercado de trabalho, o os projetos de desenvolvimento de qualquer país. Se a vacina criada pela ciência é o remédio. Investir na pesquisa científica será sempre uma solução. 


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