Desfile de 7 de Setembro me lembra uma vertigem, fraqueza nas pernas e — segura o menino de Maria do Socorro! — desmaio
Inesquecível aquele apagão aos dez anos, na marcha patriótica de Juazeiro do Norte, como legítimo puxador de pelotão dos alunos do grupo escolar Virgílio Távora. Também pudera. Não havia tomado café direito, a jornada foi até o meio dia e o sol do Cariri estava virado no raio da silibrina.
A “pilora” foi bem no momento em que a banda marcial da Polícia Militar caprichava nos acordes mais incríveis: “Deitado eternamente em berço esplêndido/Ao som do mar e à luz do céu profundo”.
O hino virou, de repente, a trilha sonora da tortura do filme “Laranja Mecânica”. Pei, bufo, desmaiei em câmera lenta no calçamento da rua São Pedro. Erguido por uma professora, fui conduzido à sombra de uma marquise. Minutos depois, recobrava a consciência, com o auxílio de um bom copo de garapa.
A síncope, até onde vai a minha compreensão, não me fez nem menos nem mais brasileiro do que qualquer outro estudante. Sempre gastei a ideia de patriotismo com o simples ato de torcer pela seleção brasileira de futebol — a “pátria em chuteiras”, como definiu o hiperbólico cronista Nelson Rodrigues.
O esmorecimento no desfile cívico de Juazeiro foi nada diante da bagaceira das autoridades fardadas dos últimos anos. As Forças Armadas chegam a este 7 de Setembro com rastros nada exemplares. Os escândalos durante o governo do capitão Bolsonaro começaram com as mordomias — banquetes de rotina a próteses penianas superfaturadas — e seguem diariamente no noticiário das joias do ex-presidente e da ex-primeira-dama.
Em nome da Pátria, vimos os dramalhões golpistas na frente dos quartéis e as mais tenebrosas transações nas nossas fuças. Em oito meses de governo, Lula e equipe revelaram mais amor ao Brasil do que toda essa gente vestida de verde e amarelo.
A melhora constante na economia, o aumento real do salário mínimo e o recente lançamento do programa “Brasil sem Fome” revelam mais zelo e cuidado com o país do que em toda a ladainha do mandato bolsonarista. Não há ideia de Pátria sem comida na mesa e sem bons tratos aos brasileiros.
Mas chega de discurso e patriotada. Quero saber do leitor e da leitora é o seguinte: vocês lembram dos seus desfiles escolares do dia 7 de Setembro? Algum vexame? Desembuchem, me contem.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.