O fole roncou na democrática volta de Lula livre

O fole roncou, mas a fala do Lula livre não foi, aqui do nosso observatório nordestino, um discurso sebastianista - de quem fala como o rei dom Sebastião, voltando para salvar a pedra do reino. Tampouco foi a bagaceira de um Antônio das Mortes (aÍ já estamos na mitologia do cangaço, via cinema de Glauber Rocha) de quem retorna ressentido para um acerto de contas. Foi a fala de um forró pé-de-serra, arrochada, porém mansa, jeitosa. A palavra de quem tem direito estar vivo e na política com P grande, pensemos nós o que quisermos dele.

Aqui, da visão em cima do murundum do meu Cariri, a fala do Lula em nenhum momento foi a pegada de um extremista, como querem passar alguns setores neoliberais (selvagens) da economia, por exemplo. O fole roncou nos mesmos oito baixos que ouvimos nas duas gestões lulistas: os empresários ganharam dinheiro como nunca, e o cobertor social foi esticado como até Deus duvidava.

Sem dúvida Tostines nessa hora. Botar dinheiro na roda social aumenta o consumo e movimenta o mundo. Até um leso como este cronista sabe quanto foi bom para o mercado real brasileiro o período em que a economia atendeu minimamente os mais pobres. Triste da visão cínica da barriga cheia metropolitana que julga isso como um gesto condenável ou populista.

Economia que é economia é aquela que anima qualquer bodega, feira ou boteco com uma boa panelada - não somente a dos falsos lastros das ações da Faria Lima.

O fole roncou e isso é importante para o jogo da disputa bonita sem fascismo. Repare nessa declaração do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ao El País/Brasil: “Gostaria até que o Lula concorresse. No momento que nós vivemos, precisamos de uma grande lição de democracia na próxima eleição. Defendo que todas as correntes ideológicas participem”.

O importante é que não tenhamos em 2022 mais um tapetão - quem gosta de futebol sabe como isso é desonesto - para tirar candidato da disputa com jogo sujo. Se Lula vai calçar novamente as chuteiras (e tudo indica que sim), é questão partidária e de eventuais aliados. Os adversários que treinem e organizem bons times. Democracia, como és poderosa e sexy!

O fole roncou e Lula disse quem bem merece nessa lida: os governadores do Nordeste. Foram os vanguardistas contra o obscurantismo de um desmascarado bolsonarismo sempre a favor do coronavírus. Quem primeiro botou a cara nessa peleja foi a turma dos Camilos, Dinos, Fátimas e Wellingtons.

Onde queres coronelismo como na caricatura histórica, somos modernidade. Onde queres ladainha, somos o melhor jeito de pensar o Brasil nessa hora.

Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.