“Meu divino São José/ Aqui estou a vossos pés/ Dai-nos chuva com abundância/ Meu divino São José”. É hora de ouvir, na voz de Maria Bethânia ou das meninas de Lavras da Mangabeira, a louvação ao padroeiro. E se não for pedir muito, como de costume a um cearense no exílio, dá-nos vacina também, santo operário.
Só não vou pedir mais, Zé dos Zés consagrado, porque seria abusar deveras das tuas habituais instâncias deliberativas - sei que tens que atender legiões do mundo todo, de Missão Velha ao Egito, passando por Maracanaú, Catarina, Ubajara, Granja, Potengi e Iguatu, não necessariamente nessa ordem da geografia afetiva dos altares.
Sei que é abusar dos teus poderes... Não custa nada, porém, rogar aos céus de Aquiraz, onde começaste o sacro xodó com a Terra da Luz. Meu divino São José, estamos mais lascados do que maxixe em cruz, nos livrai do Coronavírus ou pelo menos de quem nada faz por nós nessa hora, quebrai esse galho de canafístula ou marmeleiro.
Pidão de santo que sou, vou apelar para a tua justiça divina, e juro que só reclamo de novo no próximo ano: afastai-nos da política genocida, amém, tirai da nossa frente os que abrem alas - bonequeiros de carreata - para que a Velha da Foice vidas ceife sem ao menos uma chance de intubações nas nossas raras UTIs.
Meu divino São José, exagerei nos pedidos, fui além muito além das condições meteorológicas, como se cuidar da quadra chuvosa fosse pouca responsabilidade nesta nação semiárida. Minha súplica cearense e brasileira serve para demostrar a largura da nossa carência e “precisão” nessa hora. Mas fique frio que nem impeachment do presidente vou rogar no momento, bem sei que as causas urgentes estão na alçada do seu colega Expedito. É abusar da fé tamanha intromissão política.
Zé dos Zés, fiquemos nas precipitações pluviométricas, como diz a moça do tempo. Será sinal de fartura, apesar dos pesares pandêmicos. Porque nada é mais bonito do que o sertão verde e a sangria dos açudes. Quem dera o Tatajuba (Santana do Cariri) no sítio Olho d´Água transbordasse de novo, banhando lá do Tabuleiro até os arredores de Nova Olinda. Com direito ao milagre da multiplicação das tilápias, traíras, curimatãs, piaus, piabas, corrós e tucunarés.
Um bom dia de São José aos leitores e leitoras. Mais adiante, prometo, curaremos nossa ressaca disso tudo nas beiradas do Orós, para lavar a alma e as mazelas da quarentena.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.