A turma do Cajueiro e as mentiras mortais do presidente

Para organizar melhor as lorotas do presidente Bolsonaro a essa altura da pandemia, teremos que recorrer, no melhor espírito do humor cearense, ao Cajueiro Botador ou Cajueiro da Mentira. Foi ao redor desta árvore abençoada, nas primeiras décadas do século passado, que uma turma da Praça do Ferreira elevou a potoca à condição de arte. Além de um concurso a cada 1º de abril, para a escolha do mentiroso-mor, fazia parte da etiqueta social de Fortaleza mentir o ano inteiro debaixo daquele pé de caju.

Ao contrário dos inofensivos ficcionistas do cajueiro, as mentiras oficiais do ex-capitão têm efeitos colaterais perversos. Algumas colocam a vida em risco. Da lenda urbana da “gripezinha” - forma como definiu a Covid- à falácia de que o Brasil seria um dos países mais eficientes no combate ao coronavírus.

É mentira sobre uso da máscara, cloroquina, remédio para vermes, compra de vacina, efeitos do isolamento social etc. Lembre-se de que o homem se elegeu recitando o João 8:32 a torto e a direito: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

Recentemente, as lorotas do Planalto viraram piada em Portugal. O jornal português “Diário de Notícias” flagrou nove mentiras em um pronunciamento de três minutos de Bolsonaro na cadeia de rádio de televisão do dia 23 de março.

O festival de inverdades tem obrigado alguns jornais e portais brasileiros a usar “mentiu” em vez de “afirmou” o presidente. Este recurso, inédito na mídia brasileira, foi adotado pela imprensa norte-americana diante das pulhas de Donald Trump.

O campeonato de mentiras vez por outra é resgatado no Ceará e outros estados do Nordeste, com a mesma inspiração da confraria do Cajueiro. Nenhuma lorota bolsonarista sobre a peste do coronavírus, porém, seria aceita nessas rodas saudáveis de prosa. Não tem graça em um momento em que o país discute carência de UTI e até falta de oxigênio. Em um momento em que alguns prefeitos e governadores são obrigados a adotar medidas mais duras, como fechamento do comércio.

Portas fechadas são consequências da falha na política de combate à epidemia e do atraso na compra de vacinas. O resto é mentira para a animar bolsominions que ainda riem -talvez de nervosos- da farsa em que meteram o país. Feliz dia da fraude para vocês. Eu sou mais a turma do cajueiro.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.