Pesquisa com jogadores dos 60 times das Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro, realizada pelo GloboEsporte.Com durante nove meses aponta um dado estarrecedor do futebol brasileiro. E que faz o nosso dedo, que tanto aponta para os casos de racismo em outras competições mundo afora, virar-se contra nós. Os dados mostram que 48,1% dos 163 atletas entrevistados afirmaram ter sido vítimas de racismo no futebol.
Estamos falando de quase metade dos negros presentes nos principais clubes do País. E que estes foram humilhados pela cor de sua pele. Um dado alarmante para um Brasil que tem presenciado uma luta constante em busca de igualdade social. É impossível conceber que nos dias atuais, com a ciência cada vez mais desenvolvida e com a consciência histórica da maioria das pessoas, ainda seja possível que um jogador de futebol sofra uma espécie de "apartheid" dentro de campo. Sim, dentro de campo. Porque a maioria dos casos de racismo acontecem dentro de campo (92,4%). Não chega a ser uma novidade porque, historicamente, o negro sempre foi segregado no futebol. Basta lembrar da origem do apelido "pó de arroz" do Fluminense ou a forma como a Seleção Brasileira de 1958 era vista na Copa do Mundo da Suécia.
O Rei é negro
Basta lembrar que o maior jogador que o mundo já viu em campo é negro. Edson Arantes do Nascimento, ou simplesmente Pelé, encantou o mundo com seus gols e comandou o Santos ao bicampeonato mundial, fazendo frente aos grandes da Europa, como Real Madrid, Milan, e tantos outros.
Primeiro caso
Eram os idos de 1939 quando se registrou o primeiro caso de racismo no futebol cearense que se tem lembrança. O Maguari foi jogar amistoso contra uma equipe de Sobral. No elenco do time da Capital, estava Maurício Lima. Uma recepção de gala, com direito até a conjunto musical, foi dada à comitiva do Maguari. Menos, a princípio, ao negro Maurício Lima, que chegou a ser convidado a se retirar. E teria deixado o local não fosse o companheiro de elenco Airton Bezerra, que interveio, e fez com que ele permanecesse na festa.
Exemplo a dar
Ceará, Ferroviário e Fortaleza, que são os três grandes do Estado, e têm jogadores na pesquisa, deveriam aproveitar que estamos no mês da Consciência Negra e encabeçarem campanha sobre o assunto. É quase um dever social. Fica a dica.
Roberto Leite escreve interinamente a coluna devido às férias de Tom Barros