Tom Barros: Os ídolos são imortais

Gildo Fernandes de Oliveira. O Ceará de luto. O futebol cearense genuflexo reverencia o craque. Felizes as gerações que tiveram a oportunidade de ver Gildo em ação nas décadas de 1960 e 1970. Impetuoso, oportunista, goleador nato. Como poderiam dormir em paz os zagueiros que no dia seguinte teriam de marcá-lo? E como poderiam ter paz na hora da partida se Gildo estava em campo? Era Imprevisível como no histórico gol em 1971 quando devolveu de cabeça um tiro de meta batido pelo goleiro Cícero, do Fortaleza. Inacreditável porque fulminante no gol da virada, aos 45 minutos do segundo tempo, sobre o Remo/PA, em 1969 no PV. Gildo perpétuo na memória, nos anais. Merecia muitas placas pelo golaços que marcou. Os ídolos são imortais.

Artilheiro

Não tenho cerimônia de comparar Gildo com os maiores artilheiros do futebol brasileiro. Não há exagero de minha parte. E quem viu Gildo jogar sabe que estou sendo sincero. Não estou sendo movido pela emoção da perda de um ídolo, mas conduzido pela necessidade de bradar ao mundo a verdade: Gildo foi extraordinário!

Falta de sorte

Pela qualidade, comparo Gildo a dois ídolos do Vasco e da Seleção Brasileira: Ademir Menezes e Vavá. Gildo era até bem mais técnico. Gildo só não teve a mesma sorte que eles. Gildo fez testes no Vasco, mas sofreu contusão e voltou para Recife. E na década de 1960, quando o Corinthians já acertara com Gildo, este sofreu outra contusão.

Recordando

Último aplauso público recebido por Gildo aconteceu no PV no dia 28 de agosto de 2011. Já em cadeira de rodas, ovacionado, numa saudação inesquecível, o reconhecimento por tudo o que ele representou para a imensa nação alvinegra. O PV foi o cenário de suas maiores conquistas. Por uma coincidência, ao encerrar a carreira, ele foi morar a quatro quarteirões desse estádio, fato ainda mais motivador de tantas recordações.

Decepção

A vida de Gildo não foi apenas de encantos no Ceará. Em 1972, houve a decepção pela não renovação do contrato com o alvinegro, fato que o abalou muito. Ele me confidenciou que foi uma das maiores tristezas que teve na vida profissional. Prefiro não citar aqui o nome de quem, de forma fria, o descartou. Gildo sofreu muito por isso.

Reencontro

Quem reparou a injustiça foi Edmilson Moreira, quando presidente do Ceará. Levou Gildo de volta para trabalhar nas bases. Aliviou o coração de Gildo voltar a Porangabuçu. Fez bem à sua alma. Afinal, suas glórias foram ali edificadas. Gildo e Ceará formam uma perfeita fusão de imagens. Não há como separar suas histórias porque escritas juntas.

Capitão

Alexandre Nepomuceno, capitão do Ceará e da Seleção Cearense na época de Gildo, está viajando. Encontra-se em Santarém no Pará. De lá me ligou para expressar sua tristeza pela morte de Gildo. E fez questão de falar sobre sua admiração e respeito pelo craque falecido. Alexandre viveu com Gildo as grandes conquistas do Ceará desde o tri estadual de 1961/62/63.

Dedicação. Nesta parte final quero homenagear à família do Gildo: dona Filomena (esposa), Gimena (filha), Eveline (filha) e ao Netinho, que é apaixonado pelo avô. Nos momentos mais difíceis, quando o quadro de saúde do ex-craque se agravou, acompanhei de perto a dedicação, o carinho, o amor, o cuidado, o afeto com que ele foi tratado. Uma família unida, simples, amiga, leal, seguidora dos princípios ditados pelo ídolo, que foi grande, notável, sem jamais ter perdido a humildade.

Acompanhe os comentários em http://bit.ly/tombarros-tvdn