Tom Barros: Novas relações do futebol

Eu gostaria muito que ainda hoje predominasse o mesmo relacionamento futebol/rádio imperante nas décadas de 1950 e 1960. Um relacionamento respeitoso de parte a parte. Na época não havia sequer campeonatos transmitidos ao vivo pelas emissoras de televisão porque estas não tinham descoberto o grande apelo de vendas daí decorrente. Nem havia rede fechada de televisão. O rádio era valorizado porque instrumento único a divulgar com insistência o futebol. Por isso mesmo era o rádio o veículo mais importante se comparado aos demais. Daí o ótimo relacionamento futebol/rádio, já pelos interesses convergentes. A partir de 1970, com a comercialização da Copa do Mundo via transmissão ao vivo pela TV, o rádio começou a sofrer os primeiros coices dos novos mandantes do futebol.

Reverência

O rádio era tão importante para o futebol nas décadas de 1950 e 1960 que os narradores de rádio eram reverenciados como verdadeiros ídolos. Eu mesmo vi como os porteiros e demais funcionários do Maracanã recebiam o inesquecível Jorge Cury. Só faltavam estender-lhe um tapete vermelho. Impressionante.

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No PV a torcida e funcionários quedavam-se em gentilezas, cumprimentos cordiais, saudações mil, quando da chegada de Ivan Lima, notável narrador, e de Paulino Rocha, o comentarista campeão de audiência. Eles e os demais companheiros de microfone eram o elo entre os clubes e o torcedor.

Recordando

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Década de 1960. Prédio onde funcionava a Rádio Uirapuru na hoje denominada Praça Clóvis Beviláqua. A Uirapuru então pertencia ao Grupo José Pessoa de Araújo. Tinha tanto prestígio que era chamada de "A Casa do Esporte". Seus narradores Jaime Rodrigues, Palmeiras Guimarães e Paulo Santos eram reverenciados. Júlio Sales e Cid Carvalho ainda alcançaram parte desse tratamento VIP oferecido aos cronistas esportivos.

Desprestígio

Hoje nem cabines de rádio há no Castelão. O setor, antes sagrado nos estádios, virou ridículo espaço improvisado Nítido desprestígio que vem se acentuando a cada dia. Ainda bem que o PV manteve a tradição e deixou o setor de cabines de rádio numa posição estratégica. Mas o PV é exceção. Abomino o Castelão.

Maracanã

O setor de cabines de rádio do antigo Maracanã, de onde narrei tantos jogos, era local intocável. Mas, se nem a história do Maracanã respeitaram, como iriam respeitar esse setor? Narrador de futebol é hoje olhado com desdém pelos "donos" dos jogos e dos estádios. Estes passam a impressão de que estão fazendo favor em recebê-lo.

Respeitado

Afrânio Peixoto, o mais brilhante comentarista cearense na década de 1950, era cortejado no PV. Dirigentes, funcionários, desportistas faziam questão de cumprimentá-lo. Recebia assédio dos admiradores como os próprios ídolos que estariam em campo. Hoje, os "donos" dos espetáculos e dos estádios tratam os comentaristas como se fossem um qualquer.

Conclusão

Lamento a deterioração do relacionamento futebol/rádio que há alguns anos era saudável, mantido em elevado nível. Esquecem os "donos" dos estádios e dos espetáculos que são as emissoras de rádio que mais divulgam os jogos de futebol, pois passam a semana inteira bradando aos quatro ventos a programação esportiva. É preciso um repensar no tratamento. Que seja disciplinado, tudo bem, mas que haja também a lhaneza no trato com os profissionais de comunicação.

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