Tom Barros: Ferrão, Ferrim, Ferrinho

Ferroviário Atlético Clube. De novo nas manchetes. De novo como "Clube das Temporadas". A retomada mostrou que o time da "RVC - Rede Viação Cearense" não é um qualquer. Tem história, títulos, ídolos, torcida fidelíssima, posta à prova em tantos anos de percalços. Na amargura de um período obscuro em que até desceu para a segunda divisão cearense, quiseram dele tomar a condição de terceira força do Estado. Mas voltou triunfal: o vice estadual, o brilho na Copa do Brasil, o finalista da Série D. Aí os torcedores do Ceará, do Fortaleza e os dos demais clubes se descobriram torcendo pelos corais, num engajamento espontâneo, natural. É a simpatia atraente do Ferrão, Ferrim, Ferrinho. Magnetismo puro.

Aí é Ferrim!

Trago de volta ao debate, o tratamento Ferrim, que os mais jovens teimam em dizer que é pejorativo. E eu teimo em dizer que é carinhoso, afetuoso, bonito. Quem o inventou foi o saudoso narrador Oliveira Ramos, que na década de 1960 brilhou na Ceará Rádio Clube. Bradava ele: "Aí é Ferrim, meu filho"!

Campeão

Foi ouvindo o bordão criado por Oliveira Ramos que vi o Ferrim campeão de 1968. E foi com esse mesmo bordão que vi o Ferrim campeão cearense de 1970. Depois, quando surgiu o modismo "ão" nos times de futebol, entenderam que Ferrim era apequenar o time. Assim aboliram Ferrim. Adotaram Ferrão.

Recordando

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A partir da esquerda: Wilton Bezerra, ex-goleiro Cícero e Caetano Bayma, ex-presidente coral. Papo: o título do Ferrão de 1979. Quatro dias antes da decisão, o Ferrão ganhou do Ceará (1 x 0), gol de Celso Gavião. Nesse jogo Cícero, do Ferrão, fez milagres, herói do jogo. Na decisão, o Ferrão meteu 3 a 0 no Fortaleza, mas Cícero, contundido, não jogou.

Tudo bem

Ferrão passou a ser sinônimo de grandeza como Mengão, Vascão, Fogão. Nada contra. Tudo bem. Mas Ferrim tem mais carinho, ternura, afeto, bem-querer. É sentimento nobre que também não deixa de ter a grandeza d'alma, do amor profundo, tão inspirado que único dentre todos os times do Brasil.

Único

Que outro time no Brasil tem tratamento tão carinhoso e simples? Nenhum. É exclusivo do Ferroviário. Então, mesmo que os mais jovens prefiram Ferrão, permitam que em momentos, pelo menos em alguns momentos, os mais antigos chamem Ferrim. Não é depreciativo. É reverência mesmo.

Ídolo

O Ferroviário teve muitos ídolos, mas um deles marcou mais: o artilheiro Pacoti, na década de 1950. Ainda hoje Pacoti, esbanjando saúde nos seus 84 anos, é amado pela torcida coral. Do Ferroviário Pacoti seguiu para brilhar também no Sport-PE, Vasco da Gama e Sporting de Lisboa. Pacoti mora em Fortaleza.

Leo Batista

O grande apresentador e narrador da TV Globo, Léo Batista, contou-me um fato interessante. Ele passou a admirar o Ferroviário desde quando, na divulgação do resultado da loteria esportiva no Fantástico, chamou de Ferrinho o Ferroviário. Aí recebeu centenas de mensagens, fazendo a correção, ou seja, no lugar de Ferrinho, correto era chamar Ferrim. Depois disso, sempre cuidou de chamar Ferrim. E assim, disse Léo, nasceu a sua simpatia pelo Ferroviário.