Tom Barros: Espetacularização

Vi Real Madrid 3 x 1 PSG. A repercussão no mundo. Questionei: o espetáculo terá sido maior ou menor que aquilo projetado pela mídia? Não raro a televisão com efeitos especiais hipnotiza. Gera encantamento superior à realidade. Também os exageros de alguns narradores seduzem de tal ordem que o telespectador acaba vendo mais a fantasia que a vida como verdadeiramente é. Opto pela moderação. Clássico no melhor estilo. Pronto. Não quero absolutamente desconhecer o mérito das equipes. São notáveis na qualidade e na aplicação. Mas há também pela TV a espetacularização que amplia a audiência. Disso não tenho a menor dúvida. Analise, pois, a partida, não pelas lentes de terceiros, mas pelas lentes de sua própria avaliação.

Eu já vi

O que aconteceu no Estádio Santiago Bernabéu em Madrid eu já vi muitas vezes maior no Maracanã. Na década de 1960, Pelé e Garrincha em campo. Público acima de 150 mil pessoas era comum. O centro do mundo do futebol era Rio de Janeiro. E sem a espetacularização tão em voga nos dias de hoje.

Proporção

O Campeonato Cearense ficava bem pequenininho, quase nada, diante do certame carioca em festa nos anos 1960. Os europeus babavam ao ver o Rio, aos pés do Cristo Redentor, mas acima de tudo o que no mundo se praticava em matéria de futebol. Brasil campeão. Maracanã, o maior do mundo.

Recordando

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Dezembro de 2016. A reforma que modernizou, mas descaracterizou o Maracanã. A reforma que encolheu o estádio. Felizes os que tiveram a felicidade de conhecê-lo antes do desmonte. Hoje o seu interior assemelha-se ao de tantos outros em vários continentes. Perdeu a aura de templo sagrado, mítico. Deixou de ser o maior do mundo.

Mudou

O Estádio Santiago Bernabéu cresceu. O Maracanã encolheu. Agora os brasileiros é que ficam babando, de queixo caído, ante os clássicos da Europa. Ficamos para trás em organização e estrutura. Pequenininho ficou o futebol carioca. E nosso futebol cearense conseguiu ficar "mais pequeno" ainda.

Tamanho real

A espetacularização, na maioria das vezes, leva a conclusões que nem sempre traduzem a dimensão exata das coisas. Cristiano Ronaldo é craque, mas a mídia constrói a imagem de um craque maior ainda. O Real é grande, mas a mídia o projeta maior ainda. Aí já não sei o verdadeiro tamanho deles.

Sem endeusar

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Cristiano Ronaldo merece aplausos. É goleador. Artilheiro notável. Tudo bem. Mas a espetacularização quer transformá-lo em ser divino, acima dos todos os mortais atletas. Cristiano é um ídolo respeitável como um dia também foram Puskas e Alfredo Di Stéfano, dentre outros. Sem endeusamento.

Conclusão. A massificação tem um peso. Temo porque também às vezes já me pego quase me curvando ante a espetacularização deles. Real e PSG são a nata. Lá estão os melhores dos melhores, os campeões dos campeões, os talentos dos talentos. Mas algo no íntimo do meu coração resiste. E recalcitrante questiono. É duro ver o Brasil coadjuvante ou assistente de palco. Aí abro nova trincheira contra as influências externas. Quero ver só a realidade, nem maior nem menor, longe das lentes da mídia sedutora.