Tom Barros: Em dois hemisférios

Há um bombardeio de competições. Copa isso, Copa aquilo, Copa aquilo outro. É como numa guerra: o sujeito olha para o céu e só vê bombas caindo. Não há onde se refugiar. Assim está o cronista. De tantas Copas, nem sabe às vezes por qual delas vale tal jogo. Haja confusão. Para os senhores terem uma ideia, houve jogo do Campeonato Carioca no Estádio Dunas em Natal no Rio Grande do Nordeste. O Belmino, irreverente apresentador do programa A Grande Jogada (TV Diário), pensava que o Boa Vista era da cidade do mesmo nome, capital de Roraima, "a capital estadual mais setentrional do Brasil e a única localizada totalmente ao norte da linha do Equador". Já, já, vai aparecer um gaiato sugerindo duas bolas em campo. Uma para cada hemisfério...

Local

Apesar das críticas ao Campeonato Cearense, ainda o vejo pelo olhar dos sentimentos bons. Afeição decorrente do saudosismo, mas não exclusivamente. Não me ligo nos certames da Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha... Estão longe, a milhares de quilômetros. Os daqui, mesmo com seus defeitos, estão perto. Carne e osso, presença viva.

Distante

Não condeno e entendo os torcedores modernos gerados pelas telinhas mundo a fora. Quase ficção. O cara tem Messi no celular. Seus gols, sua história. E o Barça, e o Real, e o Manchester, e o Bayern, e o Milan... Vai pelo globalizado mundo da ilusão a uma realidade que ele não alcança e que se apaga ao apertar de um botão.

Recordando

11 de fevereiro de 2007. Assim se passaram dez anos... Lelê, então com 20 anos, comemora o golaço que fez, o da vitória sobre o Fortaleza por 4 a 3. O Estádio Castelão estava lotado. Lelê (Cícero Arleison Duarte e Silva) teve aí seu dia de glória, herói do jogo. Lelê jogou no Caucaia e no Ceará (2007), Barras (2008), Real Independente (2009), Atlético/PB (2010) e Trairiense (2011). Está com 30 anos. Faz muito tempo não sei notícia dele.

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Sensibilidade

Há algumas décadas, também acompanhei eventos à distância. Influenciado pela pena magistral de Armando Nogueira, elegi musas como Gabriela Sabatini, Paula, Hortência. Hoje, numa revisão, pergunto se Armando não teria exagerado ao descrevê-las, movido pelo fascínio que tinha por essas mulheres.

Perto da gente

O futebol cearense é ao vivo. Em carne e osso. Pertinho. Tem também sua musa nos campos de futebol: Carolina Romanholi. Competente, ela argumenta e ensina interpretações das leis do jogo a velhos e novos cronistas. Foi assim no polêmico gol do Maranguape que ela explicou muito bem. Musa. E perto da gente.

Vida de treinador

Não sei quantas vezes Danilo Augusto treinou o Tiradentes. Agora isso pouco importa. Danilo tem larga experiência. Como jogador ganhou o tetracampeonato cearense pelo Ceará em 1978. Após encerrar a carreira de atleta, abraçou a carreira de treinador. Ele sabe que não é fácil. Mais difícil até que a vida de atleta, pois sempre depende de terceiros.

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Notas & notas. Deus me deu a chance de conhecer os maiores e mais bonitos estádios do mundo: Santiago Bernabéu, San Siro, Allianz Arena, Saint Denis... Ricos, luxuosos, imponentes. Mas esses estádios mexeram apenas com minha curiosidade. Nada mais. O PV pode não ter nenhum valor para as atuais gerações, mas em meio a tantas Copas e Copas, no PV o "estadual" é ainda um pouquinho do passado. É ao vivo. Tem corpo presente. Não é quase ficção que enche telinhas e telonas.