Houve um tempo em que os campeonatos estaduais reinavam tranquilos sem a ameaça de concorrentes. E tinham glamour, graça, beleza. E eram lucrativos. E eram reveladores. Algum outro teve mais charme que os certames cariocas da década de 1950. Algum título do Flamengo ficou mais na alma rubro-negra que o tri de 1951/52/53, de Rubens, Dequinha e Pavão, que virou samba de sucesso nacional com letra de Wilson Batista e Jorge de Castro na voz de Jorge Veiga? Pois o Campeonato Carioca está agonizante. E o Campeonato Cearense de Gildo e Croinha, Alexandre e Zé Paulo, Aldo e Pacoti, que lotava o PV, que encantava multidões? Pois essas competições estão sendo devoradas por certames que se fortalecem pela implacável força midiática. Cito por exemplo a Copa do Nordeste que hoje começa.
Culpados
Quais os culpados pelo enfraquecimento dos campeonatos estaduais? Todos. Dirigentes, clubes, cronistas e torcedores. Cada um com maior ou menor participação. O que faz um campeonato crescer é o equilíbrio de forças. Nos estaduais, os times médios foram ficando menores e os menores foram ficando muito menores ainda.
Exemplos
O Ferroviário, que já foi terceira força em torcida e com nove títulos estaduais, hoje amarga a segunda divisão cearense. O Icasa que passou a ser a terceira força, hoje escorrega em parcerias esdrúxulas que poderão levá-lo à ruína. O Horizonte que até brilhou na Copa do Brasil também desabou para a Série B cearense. Assim, como barganhar?
Transição
Ainda prefiro acreditar numa reviravolta nos próximos anos, ou seja, a retomada do prestígio dos "estaduais". Mas isso terá de passar necessariamente pelo fortalecimento dos times do interior cearense. Se assim não for, o nosso campeonato estadual perderá o pouco de interesse que ainda lhe resta. E estará definitivamente condenado à extinção.
Mesmice
Só Fortaleza ou Ceará na cabeça é mesmice que leva o certame a perder a graça pela falta de opções. Hoje eu vejo Guarany/S, Itapipoca, Quixadá, Icasa, Guarani/J, Maranguape e Tiradentes como esses desafortunados doentes que pululam nas portas dos hospitais públicos brasileiros: buscam atendimento, encontram percalços.
Cuidado
O presidente da FCF, Mauro Carmélio, defensor dos "estaduais", deve refletir sobre a situação. Se não tomar uma atitude visando a fortalecer os times do interior, correrá o risco de, sob sua gestão, sentir o esmagador peso dos que pregam a extinção desses certames. Com a fragilização dos clubes médios e pequenos, insustentável ficará qualquer argumento.
Notas & notas
Do meu amigo Afonso Nobre, o querido Babá dos bons tempos da Gentilândia, recebi primoroso "cd" com músicas especiais, do melhor gosto que ele tem. Sensibilidade pura. Valeu, Afonso. /// Radialista Maurício Otoni presenteou-me uma joia rara: um "cd" no qual estão narrações de locutores que edificaram a história do rádio: de Ivan Lima a Jorge Cury, de Gomes Farias a Fiori Gigliotti, de Halmalo Silva a José Carlos Araújo, dentre tantas vozes notáveis. Agradeço de coração, caro Maurício.
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