Tom Barros: Corredor de espera

Tenho grande respeito pelos treinadores. Eles sabem o dia a dia dos atletas dentro e fora de campo. Assim, avaliam quem deve estar no time principal e quem deve ficar no terrível corredor de espera. Este corredor imaginário pode ser longo ou não, dependendo da análise do treinador. Alguns esperam pouco. Outros esperam uma eternidade. Outros esperam tanto que desistem, pedem o boné e vão embora. Mas são os treinadores que sabem. Eles sabem tudo. E sabem porque tomam café futebol, almoçam futebol, jantam futebol, dormem futebol, sonham futebol. Sonham tanto que, às vezes, não percebem a realidade posta bem à sua vista e na cara de todos. Nós, os cronistas; eles, os treinadores.

Sábios

Reconheço: há cronistas que querem saber mais que os treinadores. Cronistas que assumem um tom professoral como sumidade infalível na análise de todos os sistemas. Neste caso, não sei quem quer ser mais o dono da verdade... Infeliz daquele que quiser contestar estes sábios do futebol. Vaidosos e bobos.

Postos

Uma coisa é estar à beira do gramado, cabeça a prêmio, sob pressão da torcida. Outra coisa é analisar do alto da cabine ou numa sala com ar condicionado, vendo pela TV. É melhor estar à beira do gramado, com visão total, ou num estúdio, vendo apenas parte do campo? Depende das imagens.

Recordando

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Década de 1960. Prédio da Rádio Uirapuru na hoje Praça Clóvis Beviláqua. Aí comecei minha vida profissional como narrador de futebol. Conheci, então, Cid Carvalho, que era o comentarista da emissora. Cid ainda hoje brilha no rádio. Ele era exemplo de profissional que conhecia o futebol. Jamais se achou o dono da verdade.

Sem dono

Não existe no futebol o dono da verdade. Ora o treinador tem razão, ora quem tem razão é o cronista. Sim, e a palavra dos atletas? Qual a opinião deles que estão em campo no calor das disputas e sujeitos às mais variadas atitudes e reações? Muitas vezes os atletas discordam da opinião dos cronistas e dos treinadores.

Leitura

Não é fácil, como muitos pensam, a leitura de um jogo de futebol. Confesso a minha dificuldade de entender determinados esquemas. Tenho a humildade de reconhecer minhas limitações. Mas também não sou ignorante na matéria. Enxergo a teimosia dos treinadores e a arrogância de alguns cronistas.

O mestre

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Paulino Rocha, na minha avaliação, foi o mais brilhante comentarista do futebol cearense. Conhecia a matéria e analisava com propriedade. Discorria sobre sistemas de jogo e alterações com a mesma desenvoltura de sua palavra fácil. Sem esnobismo. Simplificava tudo com a linguagem do torcedor. Um mestre.

Notas & notas. Cito erros de alguns treinadores, que a imprensa do Sul/Sudeste incensou. Cláudio Coutinho, na Copa de 1978, cometeu o absurdo de, no jogo com a Argentina, deixar Zico no banco, quando mais Roberto Dinamite precisava desse notável parceiro do Flamengo. Coutinho fez entrar de início Jorge Mendonça. /// Na Copa de 1982, na Espanha, Telê Santana preferiu Serginho Chulapa, deixando fora Roberto Dinamite. Deu no que deu: retorno sem título. Nós, os cronistas; eles, os treinadores.