Nordeste alvinegro
A torcida do Ceará esperou três anos até soltar o grito de campeão. E ontem o soltou com a convicção de ter o Nordeste aos seus pés. Aos pés de Ricardinho, aos pés de Magno Alves, aos pés de Uillian Correia, Assisinho e companhia. Pôs o Bahia de joelhos. E saiu para abraço. Vi um Ceará taticamente impecável. Perfeito na proposta, mais que perfeito na execução. Incontestável campeão. Melhor de todos na fase classificatória; melhor de todos nas etapas seguintes. Ousado ao buscar resultados na casa dos adversários. Assim em Salgueiro, assim no Barradão, assim na Fonte Nova. Ontem, apoteótico. Por justiça, o título teria de ficar em Porangabuçu. E ficou. E ficou porque superior o talento do grupo comandado por Silas Pereira. Enfim, o Nordeste é alvinegro.
Nomes
Ontem, Ricardinho esteve notável. Conseguiu, numa questão de segundos, salvar um gol certo do Bahia e, logo em seguida, deixar Magno Alves na cara do gol. Combateu, criou. E tudo com incrível lucidez. Depois dele, Magno Alves. Bela partida. O passe de Magno para Marcos Aurélio fazer o terceiro gol foi sutil, especial. Pena Marcos ter desperdiçado.
Heróis
Numa festa de título, quem faz os gols merece lugar especial no pódio. Daí a menção especial a Charles e Gilvan, os zagueiros que assinalaram os dois gols da vitória alvinegra. De repente, o sentimento próprio dos artilheiros foi assumido por quem está mais para defender que para atacar. O gol de Charles abriu caminho; o gol de Gilvan consolidou.
Recordando
2005. E assim se passaram dez anos... O Fortaleza no auge, disputando a Série A do Brasileïrão. O ídolo Clodoaldo fazia a festa e encantava a garotada torcedora do Tricolor de Aço. Na época, Clodoaldo recebeu o foco nacional, inclusive da Rede Globo, que veiculou matérias especiais, feitas pelo repórter Victor Hannover. Havia coro nos estádios e espalhou-se pelo Brasil o Rap do Clodô: "Uh, terror! Clodoaldo é Matador"!
Novas metas
Este título de campeão do Nordeste dá ao Ceará todo o direito de pensar mais alto, ou seja, preparar seu retorno para a Série A nacional. Um time capaz de dar o espetáculo que deu ontem, jamais pode aceitar a Série B como seu lugar de trabalho. O Ceará tem de voltar à elite porque está acima de muitos times que hoje fazem parte da Série A do Brasileirão.
A torcida
Em campo, Ceará campeão do Nordeste. Fora de campo, a torcida campeã do Nordeste. Dentro do estádio um recorde de público e a contagiante energia que levou aos atletas o apoio indispensável ao triunfo definitivo. A torcida do Ceará pode ter orgulho de seu time, mas deve também ter orgulho de si mesma, pelo que fez e pelo que faz.
Na prancheta
Quem, certamente, fez todas as anotações sobre o comportamento do Ceará no jogo de ontem foi o técnico do Fortaleza, Marcelo Chamusca. Além de ver o desgaste do adversário na decisão do Campeonato Cearense, Chamusca deverá analisar com seu grupo as alternativas usadas por Silas no transcorrer da partida. Disso poderá tirar o melhor proveito.
Elucubrações. Encerrada a Copa do Nordestino, agora todas as atenções voltam-se para a decisão do Campeonato Cearense, domingo, também no Castelão. Vale um penta para o Ceará. Vale um título para o Leão. Até que ponto o ritmo e o resultado do jogo de ontem poderão ter reflexos na decisão local? Taí pergunta de difícil resposta. Só mesmo na hora em que a bola rolar para Ceará e Fortaleza será possível correta avaliação. O Fortaleza descansado, à espera. O Ceará desgastado pelo esforço. Incógnita.