Tom Barros

Influências externas

A convocação para a Seleção Brasileira foi legítima até, crio eu, a década de 1980. Depois disso, nem sempre os melhores foram chamados. Desde então, embora de forma velada, houve influências externas, ora de patrocinadores, ora de empresários. E aí começaram a fazer da seleção um entreposto de promoções e vendas futuras, haja vista o aumento de contação dos convocados. Os critérios usados para compor a seleção nem sempre traduziram a escolha dos melhores. Dois cearenses, que estavam no auge, jamais foram lembrados: Iarley e Ronaldo Angelim. Faltaram padrinhos fortes, pois futebol os dois tinham com qualidade muito superior aos que, em suas posições, foram chamados na época. Sem nenhuma explicação.

Bicampeão

Iarley, duas vezes campeão mundial, uma pelo Boca da Argentina e outra pelo Internacional/RS, jamais foi chamado, apesar do show de bola nas duas decisões do mundial de clubes. Uma com a camisa 10 de Maradona, ovacionado pelos argentinos. E outra pelo Inter (foi melhor da decisão diante do Barça, segundo Galvão Bueno, da Globo).

Zagueiro

Ronaldo Angelim, no auge, quando no Flamengo, em nenhum momento foi convocado. E só passou a ser melhor notado pela mídia, quando o atacante Ronaldo, o Fenômeno, disse que Angelim era o melhor zagueiro do Brasil, por ser eficiente no desarme, competente no apoio, além de marcar com elegância e lealdade. Mesmo assim, nada de convocação.

Recordando

Década de 1970. Guarany da cidade de Sobral. Só os jogadores, a partir da esquerda (em pé): Barbosa, Teco-Teco, Ademir, Ivan Limeira, Valdir e Wellington. Na mesma ordem (agachados): Dedeu, Marivaldo, Carrete, Paraíba e Jaldemir. Uma das boas formações do Bugre. Detalhe: Ivan Limeira, que há tempo estava bastante doente, vítima de AVC, morreu em julho deste ano. (Acervo de Elcias Ferreira).

Opinião

Após acompanhar reportagem especial sobre Iarley, na qual ficou patente seu excepcional talento entre celebridades do futebol, resolvi especular sobre o motivo de sua não convocação para a Seleção Brasileira. Será que nenhum técnico da Canarinho soube nem viu a repercussão do êxito de Iarley pelos gramados do mundo?

Ignorar

Seria impossível a comissão técnica da Seleção Brasileira, na época, ignorar o futebol de Ronaldo Angelim e Iarley. Se estavam no auge em seus clubes e ganhando títulos nacionais e internacionais, como ignorá-los? Não tiveram eles a cobertura de patrocinadores ou lhes faltou o apoio de influentes empresários? Não sei.

Soube aplicar

Aposentado do futebol, Iarley está bem. Soube aplicar o que ganhou. Ótimo ouvir dele sua convivência com famosos como o técnico Vicente del Bosque e Ronaldo Fenômeno. E como, nas decisões mundiais de clubes venceu o Milan (de Dida, Cafu, Gattuso, Pirlo, Seedorf e Kaká) e o Barcelona (de Valdés, Puyol, Xavi, Deco, Iniesta e Ronaldinho Gaúcho).

Sem influências

Sou mais o tempo dos técnicos Vicente Feola (1958) e Aymoré Moreira (1962). Tempo em que a convocação não padecia a influência de terceiros. Já na de 1970, lamentavelmente o técnico João Saldanha foi afastado por supostas interferências políticas do regime ditatorial, haja vista ter sido Saldanha integrante do Partido Comunista. Mas não houve influência sobre a  lista dos jogadores, que ficara sob a responsabilidade  do técnico Mário Jorge Lobo Zagallo.