Tom Barros

Sonho e realidade numa decisão de Copa do Mundo

Maracanã superlotado. Final da Copa 2014. Em campo Brasil pronto para enfrentar a Alemanha ou a Holanda ou a Argentina ou a Costa Rica ou a Costa do Marfim... Pouco importa o adversário. Num lugar de honra do estádio, Gigghia. Sim, o uruguaio, carrasco de 1950, agora convidado especial para ver o perdão nacional à Seleção Brasileira do Maracanazo. Fim de jogo, Brasil hexa. O capitão Thiago Silva ergue a taça, imitando o imortal gesto de Luiz Bellini, capitão brasileiro campeão na Copa de 1958. Em verde e amarelo o Brasil explode de alegria, euforia, delírio, a gritar: hexacampeão! A cantar: sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Frenesi total. É a sensação de voltar a ser o melhor do mundo no futebol. Num lugar de honra do estádio, Gigghia. Sim, ele, o uruguaio carrasco de 1950 agora a aplaudir os brasileiros. Perdoados finalmente o saudoso goleiro Barbosa, o lateral-esquerdo Bigode e os demais companheiros. É o dia mais importante do futebol nacional. Dia da elevação, da redenção, da compreensão, do perdão, da ovação. Neymar nos braços da multidão, quase de sunga, como fizeram com Tostão após a conquista do tri em 1970 no México. O Rei Pelé homenageado. Uma semana de festa e folga no país. E o vice-campeão? Não interessa. O Galvão Bueno, já quase sem voz, a gritar: é hexa, é hexa, é hexa! Foi o sonho. Belo sonho sepultado, não sob sete palmos de terra, mas sob sete gols germânicos numa tarde fúnebre no Mineirão. Agora, a realidade. Logo mais, Alemanha e Argentina em campo. Pela campanha e produção, favorita é a Alemanha. O trabalho revolucionário dela começou no ano 2000. Quando estive lá em 2006, impressionou-me o modelo aplicado, na época comandado pelo técnico Jürgen Klinsmann, de quem Joachim Low é herdeiro. Em dois momentos, a Alemanha excedeu num show de bola inesquecível: na estreia, quando goleou Portugal (4 x 0), e na semifinal, quando aniquilou o Brasil (7 x 1). A Argentina, embora sem brilho, mas perigosamente burocrática, conta com o craque Messi para fazer a diferença. A seu favor o mérito de ter eliminado no tempo normal a Bélgica que, para a crônica europeia, seria a sensação da Copa. E cuidou de segurar o futebol holandês que, embora rápido e eficiente, não soube se livrar das amarras comandadas por Mascherano. Espero que os brasileiros saibam, numa postura de elevação esportiva, educação e civilidade, aplaudir os vencedores e perdedores do jogo de hoje, num agradecimento pelo espetáculo. Foi assim que os suecos, num gesto de grandeza, fizeram quando a Seleção Brasileira, em pleno Estádio Rasunda, em Estocolmo, conquistou o seu primeiro título mundial.

A Argentina, embora sem brilho, mas perigosamente burocrática, conta com o craque Messi para fazer a diferença