O foco agora é Moscou. A Copa 2014 é página virada
Não vou jamais promover o linchamento da atual Seleção Brasileira e discordo dos que só agora, depois do estrago feito pela Alemanha, surgem como donos da verdade. Aí apontam todos os defeitos. Aí encontram todas as soluções. Assim é muito fácil. Verdade que a Canarinho nunca transmitiu confiança absoluta. Quando deu sinais de melhora, ainda assim lhe faltava o algo mais ou a sobra que garante margem de segurança. Por isso mesmo, os sufocos passados diante da Croácia, do México, do Chile, da Colômbia. Então que mais adianta repetir isso agora senão para remeter a um novo tempo? O episódio dramático, embora atípico, deve servir de ponto de partida para revolucionária mudança no futebol brasileiro. Quando digo atípico é porque o jogo tomou rumo inusitado. Se o Brasil jogar dez vezes seguidas com a Alemanha, mantidas as mesmas formações de anteontem, o time germânico poderá até ganhar as dez partidas, visto que está numa condição muito melhor, mas dificilmente haverá a repetição de placar tão esdrúxulo. A Seleção Brasileira estava num daqueles dias em que nada dá certo, ou seja, você acorda e já tropeça ao sair da cama, acende o fogão e o gás acaba, liga o carro e o motor não pega. Será que você não experimentou um dia desconfortável assim? Portanto, creio que o melhor caminho é deixar terminar a Copa do Mundo para iniciar serenamente um novo processo. Hoje ainda não há ambiente para debate sobre mudanças porque haverá certamente a influência emocional. É preciso que a ferida seja totalmente cicatrizada. Se é que há cicatrização total para ferida assim. A que foi aberta no Maracanã em 1950 ainda hoje guarda sinais nos corações dos que testemunharam aquela tragédia. Como alento, porém, um detalhe: foi depois da tragédia do Maracanã que a Seleção Brasileira iniciou o processo de reforma que a levaria, como a levou, aos anos dourados do bicampeonato mundial: o de 1958, na Suécia, e o de 1962 no Chile. As gerações alcançam resultados diferentes. Algumas predestinadas à glória; outras, à frustração. E mais: nem sempre uma geração talentosa significa certeza de título. Cito como exemplo a geração de Zico, Roberto Dinamite, Júnior, Sócrates e Falcão. Uma geração brilhante, mas que passou em branco nas disputas das Copas do Mundo. Voltou para casa de mãos vazias. Chega uma nova realidade, dura, cruel, triste. Faltam quatro anos para Moscou. No lugar de fixar o foco na tragédia do Mineirão, passem a mirar a velha e belíssima Rússia. É lá o próximo encontro. Para os brasileiros será pura perda de tempo o debruçar-se sobre o que não mais lhe trará proveito: a Copa 2014, irmã gêmea do Maracanazo.
O episódio dramático, embora atípico, deve servir de ponto de partida para revolucionária mudança no futebol brasileiro