Tom Barros

Camisa amarela enxovalhada na tragédia do Mineirão

Ontem aconteceu o espetáculo que os brasileiros jamais imaginaram ver dentro de sua própria casa: o show de futebol dado pelos alemães. O placar de 7 a 1 foi tão atordoante que, por momentos, comprometeu a capacidade de compreensão até mesmo dos mais frios analistas. É perigoso escrever sob o domínio da emoção, mormente após uma tragédia. Há o risco de crucificar todo o grupo ou eleger injustamente um único culpado. Melhor dar tempo ao tempo para evitar precipitações. Depois, com serenidade, será possível separar o joio do trigo. E detectar o que será preciso fazer para recompor o ferido e humilhado futebol brasileiro. Os escombros estão aí. É hora de removê-los em busca dos sobreviventes? E haverá sobreviventes? Não sei. No momento não há como explicar o que aconteceu com a Canarinho. É possível supor, mas jamais afirmar de forma incisiva. Talvez, um apagão. Sim, após sofrer o segundo gol da Alemanha, certamente generalizou-se o pânico que conduziu a equipe ao definitivo embotamento. Doeu ver a camisa amarela, de tantas glórias pelos gramados do mundo, agora enxovalhada como pano de chão. E a Seleção Brasileira, cinco vezes campeã mundial, semelhante a um time mambembe, sem tradição, sem história. Placar de subúrbio em plena Copa 2014 no Brasil. Inacreditável. Nesta reflexão, é hora de olhar e enaltecer as virtudes do adversário. Hora de reverenciar e reconhecer os méritos do vitorioso futebol alemão. A precisão dos passes, os lançamentos milimétricos, o elevado índice de aproveitamento nas conclusões, a força física, a velocidade, a forte marcação. A variação tática que pôs na roda o time de Luiz Felipe Scolari. A Alemanha, de Neuer, Schweinsteiger, Muller, Ozil, Klose e companhia encantou. Se há time que joga por música, como se diz no jargão do futebol, este dirigido por Joachim Low ontem parecia em noite de gala, tão afinado quanto a Filarmônica de Berlim. Mas é bom frisar: não chegou a esse ponto da noite para o dia. A rigor, a preparação foi iniciada para a Copa de 2006, que a Alemanha patrocinou e foi eliminada nas semifinais. Ficou em terceiro lugar. Continuou com o trabalho para 2010 na África do Sul. Lá também perdeu nas semifinais. Novamente ficou em terceiro lugar. Perseverou. Já agora alcança o objetivo de ir a mais uma decisão de Copa do Mundo. Quando em 2007 a FIFA confirmou a Copa do Mundo de 2014 para o Brasil, havia sete anos para a preparação da Canarinho. O tempo passou. A falta de planejamento resultou na emergência que levou de volta Felipão ao comando da equipe. O triunfo na Copa das Confederações gerou falsa expectativa. Na verdade da Copa do mundo, o sofrimento desde o jogo inicial até a tragédia. Restaram os escombros, as tristezas, as ruínas.

Na verdade da Copa do Mundo, o sofrimento desde o jogo inicial até a tragédia. Restaram os escombros, as decepções e as tristezas