O que a Alemanha fez e o que o Brasil ficou devendo ao "Rei"
O rei do futebol. Nesta monarquia imaginária um só é o rei: Edson Arantes do Nascimento, Pelé. Monarquia diferente porque não hereditária: começou com ele e terminará com ele. Na abertura da Copa do Mundo 2014, quando imaginei uma homenagem ao Atleta do Século, eis que me aparece o rapper Pitbull. Tudo bem, foi convidado. Fez a parte que lhe coube. Eis que me aparece a cantora Jennifer Lopez que também deu o recado dela. E, finalmente, a brasileira Cláudia Leite que, como os demais, cumpriu o seu papel. Eles interpretaram a música da Copa, "We Are One". Consultei meu coração e senti uma lacuna imensa, injustificável, naquela solenidade. Na monarquia do futebol, como aceitar uma Copa do Mundo no Brasil, sem homenagem grandiosa, justa e inigualável ao Rei Pelé? O Pelé dos 1281 gols (maior artilheiro da história do futebol); o Pelé, único tricampeão do mundo; o Pelé, bicampeão mundial de clubes; o Pelé dos gols geniais e dos geniais lances que imortalizaram até gols perdidos; o Pelé, honra e glória do futebol brasileiro e patrimônio do futebol mundial; o Pelé, o Pelé, o Pelé... Não entendi. Na solenidade, nenhuma alusão ao "Rei", nem na coreografia, nem nos painéis. Nada. Algo como se Pelé nunca tivesse existido. Silêncio sobre sua incomparável carreira. Quanta ingratidão! A Alemanha é mais grata, mais reconhecida. Na Copa de 1974, na solenidade de abertura e antes do jogo inaugural do certame (Brasil 0 x 0 Iugoslávia), no dia 13 de junho, no Waldstadion em Frankfurt, perante 62 mil torcedores, Pelé recebeu bela homenagem. No ato, o ídolo alemão, ex-jogador Uwe Seller, entregou ao "Rei" uma réplica da Taça Jules Rimet e recebeu de Pelé uma réplica do novo Troféu Fifa, o que passou a ser usado daquele mundial em diante. Vejam bem: isso aconteceu na Alemanha em 1974. E é bom lembrar: Pelé já não mais jogava pela Seleção Brasileira. Despedira-se três anos antes, no dia 18 de julho de 1971, diante de 140 mil pessoas no Maracanã. Síntese: a Alemanha, um país distante, soube reverenciar o ídolo brasileiro em plena solenidade de abertura da Copa do Mundo de 1974; o Brasil, berço do craque, resolveu ignorá-lo em plena solenidade de abertura da Copa do Mundo 2014. Aliás, é bíblico: "Não há profeta sem honra a não ser em sua própria pátria, e entre os seus parentes, e em sua casa" (Marcos, 6.1-6). Esfarrapadas são as desculpas como empecilhos de patrocinadores ou desconforto político. Da coreografia no Itaquerão, na abertura da Copa, deveria ter constado obrigatoriamente referência à carreira de Pelé, com ou sem a presença dele no estádio. Nesta parte, o Brasil ficou devendo. E não há mais como reparar o lapso.
Na monarquia do futebol, como aceitar uma Copa do Mundo no Brasil, sem homenagem grandiosa, justa e inigualável ao rei Pelé?