Tom Barros

No mata-mata, paciência tem limite. E teimosia, também

A despeito de todos os percalços, taí a Seleção Brasileira nas oitavas de final. Cumpriu trajetória complicada. Tomou sustos, mas avançou. A "família Scolari II" difere muito da original. Quiseram fazer de Oscar, um Rivaldo; de Fred, um Ronaldo Fenômeno; de Paulinho, um Ronaldinho Gaúcho. Não é bem assim. Calma, gente! Que seja respeitada a identidade de cada um. Tudo a seu tempo. Não são de flores os caminhos que levam a um título mundial. Há espinho, muito espinho, dentro de campo e fora de campo. Há os que, por motivos políticos, são contra, torcem contra e, não raro, até odeiam a Canarinho. Um ódio inexplicável contra rapazes que nada têm a ver com desmandos dos governos. Mas isso é outra questão. Sei que a vitória sobre a Croácia contou com uma ajuda do árbitro japonês, Nishimura; sei que o empate com o México frustrou um pouco; sei que a vitória sobre Camarões já era esperada. Sim, faz parte. Aceito e até me animo com exemplos tirados de Copas passadas. No título mundial de 2002, conquistado na Copa Coreia/Japão, a campanha brasileira na fase de grupos também não convenceu. O Brasil, com uma ajudazinha do árbitro coreano Kim Young-Joo, ganhou da Turquia (2 x 1). Jogo seguinte, goleou a China (4 x 0) e depois aplicou 5 a 2 na Costa Rica. Mas só passou a convencer mesmo nas oitavas de final, quando despachou a Bélgica por 2 a 1. Depois engrenou de vez. Fato semelhante aconteceu com a Itália quando ganhou a Copa do Mundo de 1982 na Espanha. A Azzurra, na fase de grupos, não ganhou de ninguém: empatou com a Polônia (0 x 0), com o Peru (1 x 1) e com Camarões (1 x 1). Depois disso, também engrenou de vez e despachou na sequência nada menos que Argentina e Brasil. Hoje as circunstâncias são diferentes. É verdade. Cada Copa tem suas peculiaridades, sensações, zebras, surpresas, assombros, fantasmas. Espantá-los, eis a missão. Agora começa a fase mais delicada, complicada, difícil: o mata-mata. O verdadeiro desafio, onde a margem de erro é reduzida a quase zero. Carimbar o passaporte diante de Camarões não foi mais que obrigação. Teria sido uma tragédia humilhante ver desabar, em pleno Estádio Mané Garrincha, a esperança de vaga na próxima fase. Consideraria um ultraje à memória logo dele, do Mané, genial atleta que fez da bola instrumento de glórias e alegrias da família brasileira. Salve Neymar! Sem ele, Deus meu... Para o jogo com o Chile, preocupa-me a meia-cancha com Paulinho e Oscar. Ainda bem Fernandinho entrou e fez crescer o desempenho. Mas Felipão precisa também apertar Oscar. Uma coisa é fase de grupos; outra, bem diferente, é mata-mata. Nesta, paciência tem limite. E teimosia, também.

Teria sido uma tragédia humilhante ver desabar, em pleno Estádio Mané Garrincha, a esperança de vaga nas oitavas de final