Tom Barros

Alemanha: a potência das reviravoltas inacreditáveis

É um privilégio para Fortaleza recebera a seleção da Alemanha, uma das melhores do mundo, incluída no rol das favoritas para ganhar a Copa 2014. O estilo de jogar desse visitante traduz a própria maneira de viver de um povo tenaz, altivo, perseverante, capaz de reviravoltas inacreditáveis nos mais diversificados segmentos, quer no esporte, quer fora dele. Arrasada após II Guerra, precisou de menos de dez anos para se recompor. Voltou a ser potência mundial e hoje novamente lidera e segura o bloco europeu. No futebol, em duas Copas, derrotou na final o favorito: em 1954, ganhou da Hungria do famoso Puskas; em 1974, ganhou da Holanda do genial Cruyff. Neste espírito, conquistou três títulos mundiais, incluindo o de 1990 na Itália. A atual seleção alemã teve estreia memorável: um show de aplicação tática, força física, velocidade e talento. O massacre sobre Portugal (4 x 0) mostrou a razão por que Mertesacker, Boateng, Khedira, Lahm, Toni Kroos, Özil e Muller continuam festejados. Schweinsteiger e Klose, que não jogaram, são esperança de grandes exibições. A forma de jogar da Alemanha segue uma tradição: não desiste nunca por mais que esteja em desvantagem. Foi assim forjada no espírito de Fritz Walter, Hans Schäfer e Helmut Rahn da década de 1950; assim no espírito de Beckenbauer, Breitner e Overath dos anos 1970; assim no espírito de Littbarski, Matthaüs e Klinsmann da década de 1990. Em 2006, cobri a Copa da Alemanha, a mais perfeita das quatro que transmiti do exterior. Um país sério que em tudo prima pela disciplina. Um povo, que a princípio imaginei frio no relacionamento, mas na verdade apenas reservado. Depois, mostra-se simpático, prestativo, solta-se e até faz festa para o visitante. A organização do país é um exemplo na saúde, segurança, transporte, educação, já pela eficiência e pela pontualidade. Ah se o Brasil copiasse um pouco da austeridade com que os alemães tratam a coisa pública! Certamente seria uma nação mais próspera, longe do mar de corrupção que ora o aflige e deteriora. É hora de acompanhar a segunda partida da Alemanha em gramados brasileiros. Enfrenta a seleção de Gana, que tem suas limitações e já perdeu na estreia para a seleção dos Estados Unidos (2 x 1). Gana é frágil, embora tenha também um Boateng (irmão do que atua na seleção alemã) e Gyan, aquele mesmo que na Copa 2010, nas quartas-de-final, perdeu um pênalti nos acréscimos na prorrogação diante do Uruguai. Mas isso é pouco diante do desafio africano. Fortaleza verá logo mais no Castelão uma das mais exuberantes escolas do futebol mundial: a respeitada e incansável Alemanha. Privilégio de poucos.

A atual seleção alemã teve estreia memorável: um show de aplicação tática, força física, velocidade e talento