Tom Barros

O funeral da mais brilhante seleção dos últimos tempos

Eurocopa 2008. Estádio Ernst Happel, Viena, Áustria. Nascia ali para encantar o mundo a seleção espanhola de Casillas, Sergio Ramos, Marchena, Puyol e Capdevila; Senna, Iniesta, Xavi Hernández e Fàbregas (Alonso); David Silva (Cazorla) e Fernando Torres (Güiza). No dia 29 de junho daquele ano, dirigida pelo técnico Luis Aragonés, ganhou (1 x 0) a decisão diante da Alemanha, gol de Fernando Torres. Campeã da Europa, era o início de uma Espanha inovadora, revolucionária, invencível, encantadora, que do toque de bola fez hipnótica magia a envolver os adversários. Dois anos depois, o show hispânico seria ainda maior. Na Copa da África do Sull, em 2010, já sob o comando de Vicente del Bosque, praticamente o mesmo grupo ganhou o título mundial, batendo a Holanda por 1 a 0, gol de Iniesta na prorrogação. Lá estavam Casillas, Sergio Ramos, Piqué, Puyol e Cadpevila; Busquets e Xabi Alonso (Fàbregas); Pedro (Jesús Navas), Xavi e Iniesta; David Villa (Fernando Torres). Como se não bastasse tanta glória, a Fúria insaciável queria mais, muito mais. E conseguiu. No dia 1º de julho de 2012, no Estádio Olímpico de Kiev na Ucrânia, a Espanha ganhou de forma incontestável a Eurocopa 2012. Na final, goleou a Itália por 4 a 0. Um show de bola, uma aula de futebol. E lá estavam Casillas, Arbeloa, Piqué, Sérgio Ramos e Jordi Alba; Busquets, Xabi Alonso e Xavi; Iniesta (Juan Mata), David Silva (Pedro) e Fàbregas (Fernando Torres). Ninguém conseguia deter a posse de bola dos espanhóis que, de pé em pé, colocavam na roda quem do outro lado estivesse em campo, não importando se equipes do primeiro escalação como Alemanha, França, Inglaterra e Itália, ou se seleções de menor expressão. Um toque de enlouquecer, excessivo para alguns críticos; genial, para outros. Eu me tornei amante da magistral troca de passes dos espanhóis. E lamento admitir que o belo "tic-tac", originado no berço do futebol-arte, esgotara-se. Os primeiros sinais da decadência da Fúria tinham sido notados na Copa das Confederações. Mas somente ficaram evidentes na goleada sofrida na estreia da atual Copa do Mundo, humilhada (5 x 1) pela Holanda em Salvador. Foi o começo da agonia. Aí veio o pior. 18 de junho de 2014. Estádio Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil: Chile 2 x 0 Espanha. A Fúria eliminada. E lá estavam Casillas, Sergio Ramos, Iniesta, David Silva, Cazorla, Fernando Torres... Pela TV, no olhar deles, o desespero de quem, já nos estertores, pressentia a chegada do fim. O timaço espanhol da Eurocopa 2008, o da vitória sobre a Alemanha no Estádio Ernst Happel, em Viena, finalmente sucumbira. Aí eu vi, incrédulo, o funeral da mais brilhante seleção de futebol dos últimos tempos.

Uma Espanha inovadora, revolucionária, invencível, encantadora, que do toque de bola fez hipnótica magia a envolver os adversários