Ressurreição da arte holandesa de jogar futebol
Laranja mecânica, 1974. Carrossel Holandês. Futebol total. Três dentre tantas qualificações dadas à Seleção Holandesa que fez escola, história e milhões de seguidores pelo mundo. Agora 2014, Salvador, Bahia. Todos esperavam a Holanda com seu belo e tradicional uniforme. Aí aparece a Laranja de azul. Impossível? Possível. Pois foi assim mesmo, de azul, que os holandeses massacraram a Espanha, campeã do mundo. E a senhora do título de 2010, a Fúria, de Iniesta, viu-se humilhada, de joelhos, aos pés mágicos de Sneijder, Robben e Persie. Terá a deslumbrante Espanha, dos toques geniais, sofrido a marcha dolorosa do tempo? Terá ainda como recompor os destroços deixados pelo terrível bombardeio holandês, que aplicou 5 a 1? Só o tempo dirá. Não de hoje já se notava uma queda no padrão de Casillas e companhia. Desde a Copa das Confederações, quando foi goleado pelo Brasil (3 x 0), o time de Del Bosque não mais recuperou o encanto. É incrível, mas é verdade: nos dois últimos jogos que realizou em gramados brasileiros, a Espanha sofreu oito gols e assinalou apenas um. Números que depõem contra a outrora imagem sólida de um time quase imbatível. Não cabe passar a certidão de óbito com base numa estreia ruim. A campeã do mundo não morreu. Está debilitada. As chances de reação existem, mas dependerá da força mental do grupo após a tragédia de Salvador. Uma derrota na estreia traz abatimento; uma goleada sofrida na estreia traz prostração. Sair dessa depressão será a missão espanhola quarta-feira diante do Chile. Somente aí será admissível definir o fim ou não do time que há dez anos mudou os conceitos da posse de bola como instrumento capaz de enlouquecer os adversários, garantir vitórias sucessivas e conquistar títulos em sequência. Quanto à Holanda de hoje, é cedo ainda para entronizá-la. Mas o show de futebol dado na estreia fez renascer lembranças de um tempo áureo, inesquecível, da década de 1970, em que Krol, Hanegem, Neeskens, Resenbrink, Cruyff e Rep davam concertos de futebol pelos gramados do mundo. Imaginem quando esse time vestir a camisa laranja... Mas é mais sensato dar um tempo para formar juízo mais seguro sobre o atual time holandês. Julgar por uma única partida pode conduzir a equívocos. A primeira impressão, porém, foi altamente positiva, já pela força física, velocidade, disciplina tática e intimidade com a bola. Como dizem os comentaristas: um time que joga por música. A propósito, não por acaso André Rieu, um dos maiores maestros da atualidade, nasceu em Maastricht, na Holanda. E a Seleção Holandesa começou o mundial como a orquestra de Rieu: aplaudida ao entrar; mais aplaudida ao sair. Uma derrota na estreia traz abatimento; uma goleada sofrida na estreia traz prostração. Sair dessa depressão é a missão espanhola