Tom Barros

Outro ângulo da estreia brasileira na Copa 2014

As vaias. Mais uma vez, Dilma Rousseff como alvo. Na Copa das Confederações, no Estádio Mané Garrincha em Brasília; agora, no Estádio Itaquerão em São Paulo. Quando as câmeras de TV passearam pelos diversos setores, em ângulos diferentes, logo se viu que as vaias partiam de um público de poder aquisitivo aparentemente elevado.

Sim, as aparências enganam, mas nem tanto. Está provado: pelos altos preços dos ingressos e sistema de aquisição via internet, somente as camadas privilegiadas têm como ver os jogos dentro das praças esportivas. O povão fica nos telões e telinhas. Copa do Mundo nos estádios é para a elite. Daí a pergunta: a que classe social pertence aquela gente chula, protagonista de tão baixa manifestação? Resposta simples: literalmente, sem classe. Gente de boca suja, podre, que, como diz o Evangelho, só fala do que está cheio o coração. Se medida pelos palavrões, desceria aos inferior plano da sordidez. Lamentável.

Aqui no Ceará, em 1942, os habitantes vaiaram até o Sol. Aconteceu na Praça do Ferreira. Na época os cearenses queriam chuva, pois a seca estava cruel. Quando a luz solar começou a romper as nuvens, recebeu sonora vaia. Mas aí a vaia teve a característica de gozação não ofensiva. Difere da vaia ferina, maliciosa. A vaia contra o ser humano, por mais que tentem justificá-la, é produto da falta de educação.

É um ato grosseiro, agressivo, humilhante. No Itaquerão o protesto dos torcedores não parou por aí. De repente, passou a um coro uníssono a mandar a presidente Dilma ir tomar no... Como foi triste ver tudo aquilo. Agora pasmem: as ofensas partiram exatamente das mesmas vozes que, antes do jogo, cantaram a plenos pulmões, já sem o som do estádio, a segunda parte completa do Hino Nacional Brasileiro. Belo gesto de brasilidade que a todos envolveu e emocionou. Como imaginar que esse mesmo público fosse capaz de tamanha desfeita para com a presidente da República? Incompreensível oscilação entre a elogiável postura de um patriotismo forte e a conduta vilipendiosa de torcedores sem sentimento. Gente que flutua entre o bem e o mal, entre a sensatez e o desequilíbrio, entre o certo e o errado, entre o esperado e o inesperado. Será assim mesmo o povo do meu País? Após a vitória do Brasil, os aplausos, os risos, as comemorações. A televisão então mostrou o novo processo de interação, decorrente do êxito em campo. Por instantes, esquecidas as vaias, esquecidos os palavrões.

E surgiu novamente um público educado a prestigiar os vencedores. Um público fino, elegante, alegre, humano, respeitoso e feliz, nos padrões das mais nobres e rigorosas etiquetas. Não dá para entender.

A vaia contra o ser humano, por mais que queiram justificá-la, é produto da falta de educação. É um ato agressivo, humilhante