Tom Barros

Uma festa perfeita para uma seleção ainda imperfeita

A vitória. Lágrimas. Hino. Corações. Abraços. Três pombinhos. Dilma. Blatter. Multidão. Gols. Erros. Acertos. Temores. Gritos. Dribles. Raça. Emoção. Música. Coreografia. Arte. Cultura. Reclamações. Exclamações. Talento. Telões. Luz. Câmeras. Ação. Polícia. Fiscais. Gandulas. Uma festa perfeita. A bola. Sim, a bola. Sem ela, nada. A bola, o centro de tudo. A festa de abertura de uma Copa do Mundo é assim: tudo o que já citei e muito mais ainda. Mas a bola prende os olhares, as atenções, as tensões. Quem mais entende de bola é Neymar. Ele fez a diferença. Tirou o Brasil do sufoco, quando a Croácia estava na frente (1 x 0) e ameaçava marcar o segundo gol. Aí o Neymar, de quem tanto o Brasil espera, não se fez de rogado. O chute rasteiro, bola no canto, com direito a um leve toque na trave, diria um leve beijo, como a cumprimentar o goleiro Pletikosa. Tudo igual (1 a 1). Daí a Canarinho ganhou confiança. Superou momento psicológico desfavorável porque Olic, Perisic e Jelavic, em contra-ataques rápidos, assustavam. O Brasil cresceu. Oscar perdeu a timidez e começou a encontrar seu melhor futebol. A Croácia sentiu o golpe. Remeteram tudo para a fase final. Jogo duro, difícil. O árbitro foi na simulação de Fred, que fez cinema ao ser puxado por Lovren. Pênalti. Eu não marcaria. Mas os olhos apertados do japonês Yuichi Nishimura viram demais. Ridículo. Não queria que tivesse sido assim. Mas foi. Pênalti inexistente. O árbitro marcou. Mais uma vez a bola e Neymar. Pior para Pletikosa. Virada brasileira (2 x 1). Croácia não desistiu. Insistiu. Ainda incomodou. Júlio César pegou perigoso chute de Modric. Susto grande. Segurou. Com a Croácia dando espaços, Bernard e Hernanes, que entraram, administraram melhor o toque brasileiro. No ritmo, Oscar subiu de produção mais ainda e usou o bico da chuteira para fazer o terceiro gol brasileiro. Um bicudo em plena festa de abertura da Copa do Mundo. Abençoado bicudo, tão restrito aos campos de várzea, agora levado a um dos mais importantes cenários desta Copa, o Itaquerão. Não um bicudo qualquer, desses que os pernas de pau costumam dar nos rachas da vida, mas um bicudo que os mais inspirados traduziram como "bicudo clássico". A criatividade, pelo visto, não fica apenas com Neymar. Os cronistas também sabem ornamentar com belas palavras o que pode parecer lance próprio dos bondes. Na estreia brasileira, uma produção que gerou preocupações. Ganhou, sim, mas sem a superioridade tranquilizadora que deveria ter demonstrado diante de um time do chamado segundo escalão. A festa foi perfeita; a seleção, ainda não. Agora Fortaleza abre os braços para receber a Canarinho. E receber os mexicanos também.

Na estreia brasileira, uma produção que gerou preocupações. Ganhou, sim, mas sem a superioridade tranquilizadora