Tom Barros

Só muito talento para vencer as retrancas adversárias

Falta pouco, Brasil. Indagação recorrente: o time treinado por Luis Felipe Scolari está no ponto? Essa é uma questão muito subjetiva. Para alguns, sim; para outros, nem tanto. Entendo que preparação de um mês, tempo efêmero, não permite o alcance da automação necessária. Nenhuma seleção começa já perfeitamente ajustada. A história há mostrado que algumas deslancham só depois da fase classificatória. Exemplo notório está na seleção italiana que ganhou o título em 1982 na Espanha. Nos três primeiros jogos, além de atuar muito mal, a Azurra só obteve empates com Polônia, Peru e Camarões. De repente, na fase seguinte, deslanchou: ganhou da Argentina (2 x 1) e despachou o favorito Brasil (3 x 2). Pronto: os italianos ganharam moral. Aí eliminaram a Polônia nas semifinais e, com bela vitória por 3 a 1 sobre a Alemanha, sagraram-se campeões do mundo. Portanto, a Itália não estava pronta para a Copa. Arrumou-se no transcorrer na disputa. Cresceu na reta final. E acabou surpreendendo o mundo ao vencê-la. A propósito, coisa mais recente, a Seleção Brasileira não teve início brilhante na Copa das Confederações de 2013. Mas cresceu no calor das disputas. E culminou sua participação com a vitória e o título sobre a Espanha campeã do mundo. Agora a Canarinho, pelo que vi nos dois amistosos (vitórias sobre o Panamá e Sérvia), não difere das demais equipes em preparação. Ninguém arrisca 100% na fase de ajustes. Quem vai dividir para valer, correndo risco de contusão? Instintivamente, os jogadores se preservam. É comum. Daí nem sempre o amistoso agradar. Mas, não obstante as vaias recebidas em São Paulo, está em expansão o sentimento de apoio à Canarinho. Na semana passada, institutos de pesquisa apontaram 68% de aprovação. Hoje, até mesmo pelas motivações com camisas, faixas e bandeirinhas nos veículos e nas casas, certamente já está bem maior a adesão geral em torno da Canarinho. Mas importante é que o time não se iluda quanto às dificuldades. Dará muito trabalho ao Brasil quem adotar o mesmo modelo fechado que os sérvios adotaram no amistoso, ou seja, duas linhas de quatro ou mesmo uma fórmula mais rígida de combate, deixando apenas um atacante na frente. Entretanto, somente saberemos da real situação técnica, espiritual e psicológica do Brasil quando estiver diante de desafios verdadeiros, não de simulações decorrentes de treinos com equipes do terceiro escalão. Em Berlim, na Copa 2006, eu comentei para a Verdinha Brasil 1 x 0 Croácia, jogo de abertura do evento. Bloqueio croata quebrado apenas pelo talento de Kaká, que marcou belo gol. Prevejo algo semelhante para a estreia, quinta.