Nova geração sem o trauma da Copa do Mundo de 1950
Maracanã, obra prima da engenharia brasileira em 1950, cenário da esperança, templo maior do futebol mundial. Ali a seleção de Barbosa, Augusto e Juvenal sonhou com a conquista da Jules Rimet. De repente, diante de 200 mil torcedores, o sonho virou pesadelo: o goleiro Barbosa estigmatizado para o resto da vida e Gigghia herói do Uruguai campeão do mundo. A virada celeste (1x2) ante o Brasil na final da Copa de 1950 fez sangrar a Nação.
Nem os cinco títulos da Canarinho apagaram a cicatriz deixada por Obdulio Varela na alma nacional. Doeu.
Agora, 64 anos depois, novamente o Maracanã como cenário. Não mais o maior do mundo. Outra também a geração, outra a mentalidade. Geração disposta a reabilitar a memória de talentos como Bauer, Danilo, Zizinho e Ademir, vítimas das ingratidões do destino e do futebol.
Assim, David Luiz, Neymar, Marcelo, Fred prontos para virar a página. Poderão transformar em teatro da vitória o antigo palco da desilusão; em conquista do hexa o fracasso de 50; em riso da alegria as lágrimas da derrota. É a missão. Mas, para que isso aconteça, terão de evitar os fatores que afetaram o time na Copa perdida: a visita de políticos, os discursos de aproveitadores, a imprensa exagerada, o otimismo mascarado, o "já ganhou" traiçoeiro, a bajulação desnecessária, os elogios enganosos, as presenças indesejáveis, o desassossego dos atletas, o incômodo dos "malas", a inconveniência dos cartolas; a intromissão dos pilantras e a pregação dos falsos profetas. Se for possível evitar esses males, a Seleção terá alcançado um ambiente favorável, propício a levá-la ao título.
A geração de Júlio César a Hulk, de Daniel Alves a Willian, não carrega o trauma do Maracanazo. Cada Copa tem sua história, contada pelo presente, desvinculada de agonias, angústias e assombros do passado. Estes existem não para criar novos temores, mas para evitar a repetição de equívocos.
Não digo seja o time de Felipão tão superior aos concorrentes. Mas tem talento, sim, como deixou provado na Copa das Confederações. Se a Seleção for à final no Maracanã, as lembranças de 50 não serão para provocar pânico, mas para, com o título, homenagear Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico, os vice-campeões mais injustiçados na história deste fabuloso futebol brasileiro.