No PV, um 'jogo' de placar imprevisível

Na minha vida, o PV tem uma marca toda especial. E não poderia ser diferente. Nasci a três quarteirões dessa praça esportiva, justo na casa onde moro até hoje. No PV, em 1956, pela primeira vez vi as imagens do futebol. O estádio tinha arquibancadas, alambrados e cabines de madeira. Acanhado. Mas, para minha imaginação de criança, um “Maracanã”. Em 2011, a convite da então prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, dei o pontapé inicial do jogo Brasil x Argentina (master), quando da reabertura do estádio, após significativa reforma. Uma emoção a mais. Hoje, vejo um cenário que jamais poderia imaginar. Um cenário de guerra. No lugar do entusiasmo dos desportistas, com bandeiras, faixas e outras motivações, rostos apreensivos de vítimas do terrível vírus retratam o medo de um desenlace fatal. No lugar dos gritos de gol e incentivo, os sussurros de familiares, ora em busca de informações, ora em preces, ora em lágrimas. Duro contraste que transformou o velho PV. É a disputa entre o visível e o invisível, que não tem uniforme, nem emblema, nem cor. Jogo entre a vida e a morte. Jogo de placar imprevisível.

Lances

Prefiro concentrar minhas lembranças nos fatos que deram vida ao PV. Uma tabelinha, de cabeça, entre Pelé e Coutinho, na década de 1960, num amistoso contra o Ferroviário. O Santos goleou (0 x 5). A tabelinha, de cabeça, começou na linha intermediária coral e terminou na rede do Ferrão. Nenhum jogador coral tocou na bola. Incrível.

Bicicleta

Taça Brasil de 1967. O América, campeão cearense de 1966, enfrenta no PV o Náutico, que jogava pelo empate. Mozart (ídolo e cria do Fortaleza) executou uma bicicleta perfeita, mas a bola bateu no travessão. América eliminado. Mas o lance, de tão lindo, ficou registrado no livro sobre a vida de Mozart, escrito por Saraiva Junior.

Gol inesquecível

O que Gildo marcou na virada do Ceará sobre o Remo (3 x 2), após o Vozão estar perdendo por 2 a 0 no primeiro tempo. Gol no último minuto de jogo. Um empate eliminaria o Ceará. A vitória provocou a terceira partida. O Ceará venceu (3 x 0) e foi campeão. Um dos momentos mais emocionantes da história do Ceará.

Alguns torcedores deixaram a marca de suas presenças no PV. Na década de 1950, dona Chaguinha, torcedora do Ceará, e Dona Filó, torcedora do Ferroviário. Na década de 1960, Zé Limeira, torcedor do Ferroviário, e Antônio Gumercindo (o da Charanga), torcedor do Fortaleza.

Torcedores que tinham presença frequente no bom e velho PV: Toinho Coca-Cola, Tavares, Mudinho, torcedor do Ferroviário. A Francisca (que entrava em campo e saudava a torcida do Ceará). O Marechal (que, na década de 1950, vendia sanduíche). A Maria, do chá e do rolete de cana.