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Particularidades

O futebol cearense é especial nas peculiaridades. Há coisas que só acontecem aqui. Fatos inacreditáveis que deixam perplexos cronistas e torcedores. Nas contratações, houve até jogador que desembarcou no Aeroporto Pinto Martins trazido por um clube e foi esbarrar na sede do maior rival. E por lá ficou. Época das rasteiras mais agudas. Hoje, há acertos que são feitos e desmanchados em tempo recorde. Lembro de uma foto do Renan Vieira com Reinaldo Aleluia, dando como certa a ida do atleta para o Leão. Em pouco tempo, nem Renan nem Aleluia no Pici. Agora mesmo, no Ceará, Evandro Leitão teve seu nome anunciado por um dia e já no dia seguinte tudo era diferente. O caso de Edmilson Moreira foi relâmpago: assumiu o cargo de diretor de futebol, deixou logo depois e, já no dia seguinte, retornou. E assim, no vaivém das decisões imprevisíveis, tudo fica a mercê das circunstâncias de ocasião.

Episódios

Aqui, a história conta episódios inacreditáveis sobre técnicos e jogadores. Há alguns anos um treinador soube de sua demissão num táxi, quando ouvia o rádio do veículo. Outro foi demitido a bordo do avião que o trazia após derrota de seu time no Maranhão...

Relâmpago

Amauri Knevitz veio treinar o Fortaleza. Chegou de forma tão rápida quanto foi o seu retorno. Dirigiu o time por três jogos. Inexplicavelmente foi mandado embora. Saiu tão decepcionado que disse nem ir colocar o Fortaleza no seu currículo. Depois, por uma dessas ironias do destino, Kenevitz vingou-se do Leão, pois voltou aqui já como técnico do São Caetano e ganhou do Fortaleza por 1 a 0.

Nem chegou

Em fevereiro, o Ceará anunciou a contratação do técnico Itamar Schulle, que estava treinando o São Luís de Ijuí/RS. Ele chegaria no dia seguinte ao anúncio. Ora, nem chegou, pois cancelada a sua contratação pelo presidente Eugênio Rabelo, que não havia sido informado do ato.

Até quando?

Assim, de episódio em episódio, vai o futebol cearense mostrando suas facetas inigualáveis, ora cômicas, ora irresponsáveis, ora dignas de riso, ora dignas de repúdio. E não fica por aqui. Há poucos anos, houve o caso do técnico contratado pelo Fortaleza, Aderbal Lana, que ficou escondido na arquibancada, enquanto o ainda treinador do Leão, Luís Zaloá, em campo, sem nada saber, dirigia o time tricolor.

Repercussão

Os jornais registraram a presença de Aderbal Lana, o ´Rei da Selva´, em pleno PV. Ele com um boné do Leão. Isso causou um constrangimento geral e a repercussão foi desagradável. O próprio Luís Antonio Zaloá, se não me falha a memória, exteriorizou seu descontentamento com a situação.

Dá de tudo

Claro, não é apenas no futebol cearense que há episódios hilariantes assim. Por aí a fora também há fatos semelhantes que poderiam entrar no rol dos engraçados. Mas é que aqui as coisas inacreditáveis acontecem muito mais. Na década de 60, pelo Ferroviário passou um jogador chamado Sabará, que, ao ser dispensado, deixou um prato de fezes na geladeira do time.

Corda

Por tudo isso, talvez, um colega cronista, noviço na profissão, foi vítima de uma corda dada pelos companheiros. Alguém fez de conta que passava um boletim pelo rádio e anunciou a bombástica contratação de um goleiro que só tinha um braço. O noviço imaginou que era verdade. Logo fez a ligação para sua emissora e anunciou tal contratação como furo sensacional.

Relâmpago II

O técnico Flávio Lopes dirigiu o Ceará por dois jogos. Nem deu tempo de conhecer direito o elenco. No bombardeio de tanta confusão, Flávio optou por ir embora. Uma coisa ficou muito clara: ambiente bom para trabalhar ele não encontrou. Diante da situação, preferiu sumir. E assim caminha o futebol cearense.

Recordando

Raimundo da Cunha Rola, o popular Rolinha. Eu o conheci quando ele já era árbitro de futebol na década de 60. Aliás, um árbitro querido e respeitado. Se fosse hoje, pela sua ótima qualidade, com certeza teria no peito um escudo da Fifa. Taí um nome que merece toda a nossa reverência. Desportista autêntico, Rolinha legou ao futebol dois filhos bons de bola: Kitt Rola (hoje médico) e Bill Rola (hoje dentista). Uma família integrada ao esporte. Kitt Rola foi atacante ídolo coral. Bill Rola, ótimo jogador, teve de encerrar mais cedo a carreira de atleta em razão de uma contusão.

"Segura aí, macho véi. De confusão no futebol cearense, isso é apenas o começo."
Sebastião Belmino
Apresentador da TV Diário