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Após os aplausos

Os ídolos não podem se deixar levar pelas ilusões da fama. Não conto o número de craques que, depois de encerrarem a carreira, perderam o rumo. E terminaram sem nada, à mercê da caridade pública. Agora mesmo, o Airton Fontenele me mandou detalhes sobre o ex-zagueiro Juvenal, titular da Seleção Brasileira vice-campeã do mundo em 1950. Quem não lembra do trio famoso, Barbosa, Augusto e Juvenal? O tempo passou. Juvenal está com 84 anos. Não fez seu pé-de-meia. Por isso passa privações. Um ídolo, abandonado e sem conforto, atirado à própria sorte. Após reportagens sobre seus momentos difíceis, aparecerem pessoas generosas para ajudar. Juvenal passou a receber assistência e até ganhou de presente um aparelho de televisão. Pobre, doente, segue. Que sentem os ídolos, quando cessam os aplausos? Juvenal, do monumental Maracanã a uma casinha humilde. Sozinho. Que solidão!

Dignidade

O caso de Juvenal é semelhante ao de tantos outros que não cuidaram de formar patrimônio. Verdade que na década de 50 não dava para fazer fortuna como fazem os Ronaldo de hoje. Mas creio que dava pelo menos para um mínimo capaz de garantir sobrevivência digna

Aqui

O futebol cearense está cheio de casos parecidos como o de Juvenal. Atletas que não se prepararam para o período posterior ao futebol. Não viram quão efêmera é a profissão em campo. E não buscaram alternativas. Julgaram-na eterna. Grave erro de avaliação.

Exemplo

O ex-zagueiro Gavillan, que aos 16 anos já estava na Seleção Cearense principal, cedo descobriu a necessidade de alternativa, pois o futebol, com os salários da década de 70, não garantiria seu futuro. Formou-se em engenharia. Hoje está muito bem.

Incentivo

Gavillan costuma escrever matérias, mostrando a necessidade de os clubes formarem primeiro o homem e, depois, o atleta. Assim, com o homem preparado para a vida, cada um saberia o que fazer e como fazer ao encerrar a carreira. Seria então reduzido a quase nada o grupo composto por gente sem compromisso.

Proveito

Hoje, os jogadores estão mais atentos. Se orientados por bons procuradores, conseguem tirar o máximo proveito econômico, principalmente quando vão para o exterior. Cito o exemplo do cearense Iarley. Ele está sabendo fazer seu pé-de-meia, pois compreende as limitações do tempo.

Ásia

Mota está na Coréia do Sul. Faz tempo. Saiu do Bairro Antonio Bezerra, passou pelo Ceará Sporting Clube, ganhou título e fama no Cruzeiro e desembarcou na Ásia, onde permanece. Pelo que sei, também este está cuidando do futuro.

Opções

Dá para formar patrimônio, atuando apenas no futebol cearense? Não dá para enriquecer, mas dá para comprar imóveis. Pelo menos uma casa para morar. Aí, o atleta terá de aprender outra profissão que lhe dará suporte quando parar de jogar. Tem de buscar opções.

Problema

Se o atleta é perdulário, aí, amigo, não dará certo em lugar nenhum. Ganhará fortuna, perderá fortuna. O futebol cearense também tem exemplo disso. As extravagâncias custam elevado preço. As noitadas, idem. Depois, quando a idade vai chegando, será tarde demais para recuperar o tempo perdido.

Apoio

Quero louvar o trabalho que o Marcos Gaúcho faz no sindicato dos jogadores profissionais, bem como o trabalho dos integrantes do Fugap. Eles mostram caminhos aos atletas e ex-atletas que se encontram em dificuldade. Vozes que orientam e que ajudam, sem alarde.

Presença

Faço questão de registrar homenagem ao saudoso Gilvan Dias, que tanto ajudou ex-jogadores profissionais. E concordo com o que disse o Lídio Neto: ´Gilvan foi um verdadeiro pai para essa gente´. Para evitar o drama vivido por Juvenal, é preciso que cada atleta, hoje, saiba se preparar para o período que vem após os aplausos.


"Não sinto um ambiente interno de confiança e doação na Seleção".

João Ricardo, sobre a Canarinho 2007
Psicólogo