Gente Humilde que vive do futebol

Nos primeiros tempos de meu contato com o futebol, conheci um vendedor de sanduíche que ficou muito conhecido no PV nas décadas de 1950 e 1960. Não sei como era o nome dele. O apelido era Marechal. Chegava com uma cesta grande, cheia de "cai duro". O sanduíche vinha enrolado num guardanapo de papel branco. Ele não subia na arquibancada que na época era baixa. Ele atirava o sanduíche para o alto. Alguém o pegava e cuidava de descer até às mãos do Marechal o dinheiro do comprador. Tempos mais recentes, havia a Maria do chá e do rolete de cana. Esta trabalhava nas cadeiras, já perto das cabines de rádio. Naquele tempo era bem menor o número de gente humilde que dependia indiretamente do futebol. Hoje, uma multidão, para sobreviver, depende dos jogos. Quando a bola parou, o rendimento dessa gente sumiu. Como sobreviver, então? Moro na mesma casa, perto do PV, faz 73 anos. Em dias de jogos, os ambulantes e donos de barraca ou pontos lotavam as ruas e praças no entorno do estádio. Chegavam cedo para garantir seus espaços. Os produtos variavam: de espetinhos e bebidas a camisas e faixas dos clubes. Eles contavam com aquela receita garantida. Contavam...

Quantidade

Imaginem quantas famílias vivem indiretamente do futebol. Há uma verdadeira rede de dependência. Há também os estacionamentos improvisados em algumas casas próximas, principalmente para motos. Há os bares e até mesmo alguns restaurantes que também recebem a clientela de maior poder aquisitivo. Parou tudo.

Flanelinhas

Os tomadores de conta dos carros também garantem rendimento extra em dias de jogos. Dividem os espaços. Tornam-se "proprietários" dos quarteirões. Tornam-se conhecidos e têm clientela certa. Compram clones para demarcar a área e garantir as vagas. Vez por outra sai uma confusão. Mas, na maioria das vezes, eles mesmos se entendem.

Perspectiva

Todas essas famílias não terão tão cedo a oportunidade de fazer renda extra no PV ou no Castelão. É que o futebol poderá até retornar no próximo mês ou nos próximos meses. Mas as aglomerações continuarão proibidas por um tempo bem maior. O cenário que agitava vendedores e compradores agora é feito de ruas vazias. Nunca imaginei isso.

De Ana Suely Ramos recebi com pesar a notícia da morte do ex-jogador Geroldo (sim, com "o" mesmo), cearense que brilhou no América, Ferroviário, Seleção Cearense e Seleção Brasileira. Também teve destaque no futebol pernambucano. Farei um registro maior posteriormente.

De Varley de Lima Rodrigues, neto do Liminha, que foi campeão cearense pelo Gentilândia em 1956, recebi a notícia de que o ex-jogador está Vivo e mora com ele Varley. Que bom. Creio que daquele time campeão há apenas dois remanescentes: Liminha e Pedrinho Simões.



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