Futebol no tempo das bombas de mil megatons

Os desportistas lembram muito de uma época em que os clubes cearenses faziam as chamadas contratações bombásticas. Se você perceber bem, mediante a leitura que hoje se faz, nem eram tão bombásticas assim. Mas um clima estava criado. Também aconteciam as rasteiras, ou seja, um jogador ia ser contratado por um grande clube. Quase tudo acertado. Por trás, na surdina, nas caladas da noite, o adversário fechava o acordo e o jogador mudava de rumo. Foram práticas que caíram em desuso. Hoje, não tenho notícias desses expedientes no futebol. Pode até ser que, por debaixo dos panos, ainda aconteça fato semelhante. Entretanto, se houver, será a exceção das exceções. Sobre as contratações já anunciadas pelo Fortaleza e pelo Ceará, não há nenhuma do tipo bomba de mil megatons. Boas contratações, sim. Também nenhum traque. É o futebol dentro da realidade financeira do clube. Às vezes, até um pouquinho acima, mas sem comprometer a saúde do cofre. Aí o clube compensa com a redução do elenco. Tudo muito bem calculado. Vale frisar que, na época das bombas de mil megatons, não raro o contratado era um jogador famoso, mas em fim de linha. Hoje é impossível tal enganação. 

Detalhes 

Hoje o mundo está na casa dos torcedores (rádio, televisão, internet, redes sociais). Ele conhece e sabe tudo e mais alguma coisa. Exemplo: quando se especulou sobre a possível vinda de Pablo para o Ceará, logo a torcida tinha nas mãos todos os dados sobre o atleta. Os clubes por onde passou, o número de gols, vida familiar, seu momento atual, tudo.  

Internacional 

A invasão do futebol europeu, via transmissões ao vivo pela tv, também mudou o perfil do torcedor local. Ele passou a ser mais exigente na medida em que teve acesso aos grandes espetáculos de futebol da terra. E passou a cobrar mais. Aí começaram a aparecer pelas ruas da cidade mais camisas do Real e do que as dos nossos clubes. Hoje mudou. 

Comum 

A familiaridade com as celebridades do futebol europeu faz com que o jovem esteja mais ligado nas competições de lá do que nos campeonatos estaduais. Não deveria ser assim, mas é. Então, a avaliação de qualquer contratação feita por um time daqui não mexerá muito com quem vive o outro mundo do futebol. Isso também determinou o fim das bombas de mil megatons. 

O rádio 

É preciso esclarecer que o período das bombas de mil megatons era o auge do rádio. Não havia transmissões ao vivo pela televisão. Os jornais só dariam a notícia no dia seguinte. Não havia edição digital. Com a disseminação de outros meios de comunicação, tudo passou a ser muito rápido. Não existe mais o esperar por uma bomba. Hoje, ela é desativada bem antes de qualquer explosão.