Narrar futebol é uma arte. Agora que tudo parou, estou fazendo uma revisão das técnicas empregadas nas transmissões. Quem me ensinou muito foi o querido Júlio Sales, quando em 1965 comecei a minha vida profissional na Rádio Uirapuru. O Julinho levava um gravador para o PV e lá me ensinava. Quando a bola na faixa intermediária, ritmo mais lento. Quando se aproxima da área, acelera o ritmo. Na hora das cobranças de falta ou escanteio, após identificar o batedor, toda a atenção para identificar os jogadores que estão na grande área. Isso facilita o acerto na hora do gol. Quando não é possível identificar logo o autor do gol, estica ao máximo o grito de gol. Quando não havia o auxílio da televisão, a missão de ajudar na identificação cabia ao "pista". Uma observação importante: quando um time sobe ao ataque, o narrador já vai observando a movimentação dos homens de frente para onde certamente a bola será passada. Isso também facilita. Pior era quando o estádio tinha "iluminação lamparina". Aí, meu amigo, sofrimento muito. Nem de luneta dava para identificar o jogador. O PV, na década de 1960, passou um período assim.
Na bola
Os narradores, quando emergencialmente escalados para comentar, têm alguma dificuldade inicial. Motivo simples: o narrador está acostumado a concentrar atenção direta na bola, deixando de lado o aspecto tático. Aí, quando tem de comentar, não raro segue ligado na bola, até que desperte para as observações táticas.
Sem ornatos
As transmissões de futebol pelo rádio na década de 1950 eram sem enfeites. Nem sinal de tempo. Ary Barroso usava uma gaita na hora do gol. Eram narrações lineares. Na década de 1960, sugiram os primeiros ornatos, ou seja, o sinal de tempo, vinhetas com o nome do narrador, músicas com os nomes dos times...
Alívio
Os ornatos foram uma bênção para os narradores, pois esses passaram a ter espaços para aliviar o esforço vocal que antes era continuado. Hoje, a cada dez minutos, quando entra um ornato, bebo um gole de cevada (não confundir com cerveja) bem quente. É muito bom para a garganta. Dá um alívio significativo.
No âmbito local, narradores, todos já falecidos, que deram muitos shows nas emissoras de rádio cearenses nas décadas de 1950 e 1960: Jaime Rodrigues, Ivan Lima, José Cabral, Palmeiras Guimarães, Audir Frazão Doudement, João Ramos, Wilson Machado e José Santana, que também se aventurou como comentarista esportivo.
No âmbito nacional, narradores já falecidos que brilharam nas décadas de 1950 e 1960: Pedro Luís e Edson Leite (Rádio Bandeirantes/SP), Fiori Gigliotti (Rádio Pan-Americana, depois Bandeirantes), Jorge Curi (Rádio Nacional) Valdir Amaral (Rádio Globo), Doalcey Camargo (Rádio Tupi/Rio).