Celebração entre os povos
Torcedores de diversas nacionalidades ressaltaram a segurança e a hospitalidade encontradas no Castelão
Fortaleza entrou definitivamente para a história do futebol mundial e a Arena Castelão se tornou nosso panteão. Ontem, quando Uruguai e Costa Rica fizeram o primeiro jogo de Copa do Mundo no Gigante da Boa Vista, não foram apenas os que estavam dentro de campo que viveram este momento épico. Este sentimento singular foi sentido também nas arquibancadas.
Cearenses e turistas compartilham e foram apresentados a uma atmosfera típica do Mundial e as impressões sobre tudo o que envolvia a partida ficarão de legado imaterial.
Para o publicitário uruguaio Rodrigo Aquino, que encarnou o Fantasma de 1950 e portava uma réplica da sonhada Taça Fifa, por exemplo, sua breve passagem por Fortaleza se tornou épica desde o desembarque. “Uma Copa do Mundo no Brasil é, de fato, para todo o mundo. É a celebração do futebol e nós, irmãos de América Latina, é como estar em casa; é o máximo. Toda essa festa acontece em um lugar bonito como Fortaleza, com praias incríveis de água quente, isso se torna muito melhor”.
Segundo Rodrigo, “desde que pousamos e deixamos o avião foi como se o calor nos abraçasse”, comparou o torcedor natural de Montevidéu, onde as termômetros marcam neste período junino algo em torno de 5°C a 10°C.
Ao ser questionado se sabia que a Arena Castelão foi desenhada pelo arquiteto uruguaio Héctor Vigliecca, Aquino se mostrou ainda mais otimista e profetizou. “Não sabia. É uma grata surpresa. Sendo assim, vejo que este estádio, que já achava belíssimo, é brasileiro, mas tem alma uruguaia”, afirmou.
À vontade
Acostumado com o calor, o dentista costarriquenho José Lisondo revelou estar habituado com o calor e se mostrou confiante com a seleção da Costa Rica. “Estamos no grupo da morte, mas nenhuma página ainda foi escrita e acredito que podemos surpreender, assim como ninguém imaginava que a Espanha fosse perder de 5 a 1 para a Holanda”, afirmou, antes de ver Los Ticos baterem o Uruguai.
Entre bandeiras de diferentes nações e de clubes, um torcedor solitário, de um país que sequer está na Copa do Mundo, chamou a atenção. Era o peruano Wilsonda Cunha, que disse que “como apaixonado pelo futebol não poderia perder a chance de ver um jogo de Copa no Brasil”.
No trajeto rumo ao Castelão, os torcedores se misturavam com brasileiros, também em grande número, mas eram vistos também, irlandeses, mexicanos, venezuelanos, enfim, todos felizes com uma festa do futebol.
O uruguaio Diego Malvino, 23, engenheiro, estava com a bandeira do Nacional de Montevidéu, um dos maiores clubes uruguaio, elogiou Fortaleza e a segurança. “A segurança está boa. Me desloquei de taxi pela cidade e foi tranquilo”.
Torcedores encaram Problemas no serviço
No primeiro teste da Arena Castelão durante a Copa do Mundo de 2014, quanto à organização e serviços, o torcedor enfrentou problemas para se alimentar, adentrar à praça esportiva e até mesmo utilizar os banheiros.
Antes de a bola rolar, vários bares e lanchonetes se encontravam fechados, o que provocou intensificação de filas.
A educadora física Priscila Almeida, de 31 anos, relatou que teve de esperar acabar o intervalo da partida para encarar a fila em uma das lanchonetes. “Muitas pessoas estavam com notas altas, o que dificultou na hora do troco”, conta.
Outro problema foram as más condições dos banheiros no estádios. Em dois deles, localizados no setor sul, as pias se encontravam cheias de água.
Outra situação ruim relatada por internautas no estádio foi a indisponibilidade do sinal 3G. Poucas pessoas conseguiram acessar seus celulares em sinais regulares durante a partida.
O wi-fi disponibilizado pelo Governo do Estado, através do Cinturão digital, funcionou bem durante a partida. Após algumas quedas no intervalo, o sinal ficou em nível satisfatório.
Usuários do estádio também se queixaram de falta de informações por parte dos voluntários. Boa parte não respondia satisfatoriamente às dúvidas dos torcedores ou repassavam o questionamento para outros trabalhadores do estádio.
Chegada à arena foi tranquila
Ao contrário do que acontece frequentemente nos jogos entre times locais, a paz e a descontração marcaram a chegada dos torcedores à Arena foto: Alex Costa
O torcedor se preparou cedo para chegar à Arena Castelão ontem, em Fortaleza. Por volta do meio dia, algumas vias de acesso ao estádio, como a Avenida Raul Barbosa, tinham o tráfego bastante lento, mas perto das 15h, o trânsito já fluía com tranquilidade, e nos bolsões, locais onde os torcedores estacionavam os carros e seguiam de ônibus até o destino final, o fluxo de pessoas já havia diminuído.
No bolsão situado por trás do Centro de Eventos do Ceará (CEC), 48 ônibus estavam à disposição dos torcedores. Perto das 15h, a movimentação era tranquila e mal dava tempo de formar fila para subir no ônibus. O analista administrador Pedro Henrique Távora, 25, foi do Bairro de Fátima até o CEC e elogiou a tranquilidade do trânsito na Capital. “Na Copa das Confederações, fizemos o mesmo trajeto e passamos por vários engarrafamentos, mas neste ano está muito mais organizado”, descreve.
No bolsão do Shopping Via Sul, de onde partiam 50 ônibus em direção ao estádio, o fluxo maior de torcedores se concentrou entre as 14h as 15h, mas tudo corria como esperado, segundo os agentes da Prefeitura que orientavam as pessoas no local do embarque.
Antes de entrar nos ônibus, crianças, idosos e pessoas com deficiência recebiam pulseiras verdes que davam direito a realizar, de micro-ônibus, o percurso entre o bloqueio e a entrada da Arena, trajeto de cerca de 2km. Na Av. Alberto Craveiro, entretanto, um agente da Etufor, que preferiu não se identificar, afirmou que cinco deficientes já haviam percorrido o trecho sem auxílio dos micro-ônibus devido à ausência dos veículos.
Desvio
Os torcedores que utilizaram os bolsões localizados na região da Parangaba para se dirigir à Arena Castelão tiveram de tomar um rota diferente para chegar à praça esportiva, já que um protesto acabou fechando a Avenida Dr. Silas Munguba (antiga Dedé Brasil), principal via de acesso ao local.
A mudança, porém, acabou beneficiando os torcedores oriundos da Parangaba, tendo em vista que os mesmos foram obrigados andar menos para chegar ao local do jogo. Isso porque, para fugir do protesto, os ônibus fizeram um desvio e pararam no cruzamento das avenidas Heróis do Acre e Prudente Brasil, a cerca de 900 metros do Castelão. Se seguissem o percurso normal, a parada seria a aproximadamente 1,5 quilômetro (km) do local.
O fluxo de pessoas nos bolsões do North Shopping Jóquei e Shopping Parangaba foi bastante tranquilo durante a tarde. Em ambos os locais, 15 ônibus faziam o percurso com destino à Arena Castelão. Por volta das 14h30, os veículos saíam em intervalos de 20 minutos.
Nenhuma ocorrência registrada no Castelão
A partida entre Uruguai e Costa Rica não poderia ter sido mais tranquila para os responsáveis pela segurança do evento. Segundo o responsável pela operação da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge), coronel Soares, nenhum ocorrência foi registrada na partida de ontem, realizada na Arena Castelão. “Nem parece dia de jogo. Para falar a verdade, o único problema é o calor”, disse, neste sábado.
Segundo Soares, que comandou a operação de um caminhão de monitoramento, estacionado em frente ao estádio, 2.333 policiais foram utilizados apenas para o isolamento da área. “A operação foi um sucesso. Do caminhão acompanhamos tudo em tempo real e constatamos isso”.
Eduardo Buchholz/Vladimir Marques
Repórteres