As preferências dos narradores esportivos

Interessantes as manias dos locutores na hora de narrar futebol. Cada um tem seu jeito próprio, até mesmo na hora de arrumar a mesa da cabine. Na década de 1960, quando ingressei no rádio, os narradores, na grande maioria, não aceitavam outro microfone que não o chamado "cara de gato". Era o melhor da época. O preferido. O som perfeito. Contribuía demais. A voz ficava mais encorpada. Uma beleza. Quando não tinha um microfone "cara de gato", a qualidade do trabalho já ficava comprometida. Alguns narradores tinham seus fones prediletos. Uns mais agudos. Outros mais graves. Sempre preferi os de som mais agudos. Ainda hoje caio de produção se pegar um fone de som grave. Havia locutor que só conseguia narrar se encostasse a mão ao ouvido. Não sei que efeito produzia tal gesto, mas era assim. Há locutores que só sabem narrar se esgoelando todo, com os gritos nas alturas. Outros, falam baixinho, aproveitando o ganho que o microfone oferece. Faço parte desse segundo grupo. Na distribuição da escalação no papel, também cada um organiza de um jeito. Eu sempre uso o 4-3-3 ou o 4-2-4. Dá certo.

Escolas

Os estilos de narração ficaram bem definidos no Brasil. O de Jorge Cury, vozeirão lindo, mas não tão rápido. Era o estilo do rádio carioca, que tinha também Waldir Amaral e Doalcey Camargo. Geração seguinte, veio José Carlos Araújo, com estilo próprio que encantou e fez seguidores pelo Brasil.

São Paulo

Edson Leite e Pedro Luís, vozes bonitas e rapidez na narração, marcaram o rádio paulista, máxime nas décadas de 1950 e 1960. Fiori Gigliotti, voz pequena, mas bem colocada, rápido e preciso na narração, estilo romântico, também fez seguidores pelo Brasil. Geração seguinte, Osmar Santos revolucionou com estilo próprio. Uma nova escola.

Reverência

O narrador Jorge Cury era ídolo no Rio. Em 1981, fui narrar, no Maracanã, Brasil 3 x 1 Bolívia, Eliminatória para a Copa de 1982, na Espanha. Quando cheguei ao estádio, Cury ia chegando. Fiquei impressionado: funcionários do Maracanã e o público faziam reverência como se Jorge Cury fosse um ser sagrado. Respeito muito.

O microfone "cara de gato", apesar de muito usado nas transmissões esportivas, nas décadas de 1950 e 1960, é difícil de ser encontrado. Eu e o Altenir Mossoró pesquisamos na Internet. Encontramos apenas uma única foto e nenhum exemplar para vender. Raridade.

O Museu da Imagem e do Som deveria adquirir um exemplar. A peça, garanto, atrairia a curiosidade de muitos visitantes. Fabiano, operador da Rádio Jornal de Recife, está tentando recuperar um exemplar que encontrou. Ficou de entrar em contato comigo. Vale a pena.



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