A Canarinho na esteira das humilhações

Confira a coluna do Tom Barros desta sexta-feira (24)

Legenda: Canarinho, mascote da Seleção Brasileira
Foto: Staff Images / CBF

Custa crer que a Seleção Brasileira, cinco vezes campeã do mundo, esteja sendo submetida a mil vexames. E o pior: reveses dentro de sua própria casa. O Brasil de Garrincha e Didi, de Pelé e Bellini, de Zagallo e Nilton Santos, honra e glória de tantas conquistas, não pode passar pelo que está passando agora.

O Brasil de Carlos Alberto Torres e Tostão, de Gerson e Rivelino, de Clodoaldo e Jairzinho, jamais poderia quedar em pleno Maracanã como tem quedado agora. O Brasil de Romário e Bebeto, de Dunga e Jorginho, de Cafu e Taffarel, não pode sofrer os presentes desenganos.

O Brasil de Ronaldo e Rivaldo, de Ronaldinho e Roberto Carlos, de Kléberson e Edmilson, ídolos da última conquista, não pode, como agora, descer tanto em postura e qualidade. O olé entoado pela torcida brasileira, quando da recente vitória da Argentina sobre o Brasil no Maracanã, foi deprimente.

Antes, em 2021, também no Maracanã, a mesma Argentina já ganhara a Copa América. Sem esquecer a maior de todas as humilhações: a goleada (1 x 7) imposta pela Alemanha, na Copa de 2014, no Mineirão. É inconcebível seguir teimosamente tropeçando na mesma pedra. Está na hora de um basta! 

Respeito 

Perder faz parte. Mas não faz parte perder a dignidade. Não se admite jogar na lama a aura que gerações ergueram com talento, dedicação e compromisso. Gradualmente, a única seleção cinco vezes campeã do mundo vai perdendo a altivez que conquistou com tanto brilho pelos gramados do mundo. Não pode continuar assim.  

Modelo 

Após o ano 2002, o da última conquista mundial, o modelo de convocação é o mesmo. Foi assim com Dunga, assim com Felipão (na segunda passagem), assim com Tite. E agora o modelo continua com Fernando Diniz. Trazem os brasileiros que estão em destaque na elite do futebol europeu. Na Canarinho eles não repetem o que produzem nas suas equipes. É incrível. 

Calendário 

Há uma reclamação generalizada, segundo a qual o calendário não permite a utilização de um tempo especial dedicado à preparação da Seleção Brasileira. Isso é verdade. Mas creio que o olhar poderia ser mais generoso para os atletas que atuam nos times aqui do Brasil. Afinal, faz 21 anos que priorizam os que atuam na Europa, mas nada de título. 

Lição 

Seria interessante dar uma olhada no tipo de preparação da Argentina. De certa época para cá, acertou o passo. A comissão técnica da AFA fez os ajustes. Ganhou a Copa América em pleno Maracanã. O título das Américas deu força moral ao grupo, que passou a acreditar mais no seu potencial. Resultado: ganhou também a Copa do Mundo do Qatar.  

Humildade 

Houve uma época na qual os argentinos tiveram de eleger o futebol brasileiro como modelo. O Brasil tinha três títulos mundiais (1958/1962/1970). A Argentina não tinha nenhum. Eles aprenderam com os brasileiros. Ganharam a Copa de 1978, a de 1986 e a de 2022. Estão por cima. Agora chegou a hora de o Brasil humildemente copiar a preparação deles como modelo.