A vida muda a gente, felizmente ou não.
Outro dia, em um aniversário de namoro, comprei um papoco daquele de festa que, quando estoura, joga confete por todo lugar, literalmente. Depois de ter os filhos criados e na faculdade, com netos, você ainda encontrará um deles dentro do sofá. Para limpá-los, é ruim demais, parece que criam uma cola.
Pois bem, estourei. E assim que estourei, pensei: por que fiz isso? Poderia não ter feito. Ele não ia sentir falta se não tivesse.
Hoje, seis meses depois, vi alguém fazendo aquela minha cara de “quem vai limpar isso?”. Olhando de fora, lembrei aquele dia e pensei: o que me roubou a alegria de soltar o meu confete?
Sou de comemorar, de viver os dias bons, de gastar dias rindo de coisas vãs. Sempre considerei uma grande qualidade, uma sobrevivência, ver alguma alegria em qualquer coisa.
E de repente, me perdi um pouco, porque me vi recusando comprar o confete para não ter que varrê-lo. É verdade que dá trabalho e que o companheiro de comemoração não sentiria falta.
Mas eu sentiria.
Era minha festa para ele, é como minha banda toca. São aqueles segundos em que os confetes estão no céu que me deixam feliz durante dias. Lembram Carnaval, lembram festa, muito antes de ficarem pelo chão e eu só encontrá-los depois de meses para lembrar aquele dia feliz.
Assim como com o confete, acontece com muitas das coisas lindas que gostamos de fazer durante a vida e que vão se perdendo à medida que crescemos e ficamos mais duros. Sabemos, a vida adulta não é muito mole. Vem com certa independência, mas também com um mar de responsabilidades.
Mas por que tão duros? Viramos pessoas que se escondem em seus cascos quando ameaçadas pelos mínimos incômodos. A vida, a ausência de prazer em tantos momentos, nos faz evitar tanta coisa, inclusive o que nos faz feliz mesmo que por segundos.
Crescemos e começamos a achar que a felicidade está no que vai durar mais tempo: a casa, o carro do ano...
Nos perdemos do simples, do que gostamos (e que ficou dentro de nós), nos acostumamos com uma versão que a vida ou alguém nos pediu.
Mas o que é a vida em sua maior extensão senão experiências que duram frações de segundo que viram memórias? Afinal, o que deixamos de infinito além de um legado de lembranças? Todo o resto é finito.
Mês que vem, vou comemorar algum dia bom. E vou varrer confete.
E será apenas uma consequência mínima de um momento que me fez feliz.
Definitivamente, já estou ansiosa para encontrá-los daqui há Deus sabe quanto tempo, quando talvez, nem exista mais tanta oportunidade assim de soltar meus amados confetes.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.