O discurso de Moro, Bolsonaro e a estratégia dos generais do Planalto

O general Hamilton Mourão, um homem sóbrio, bem mais equipado intelectualmente do que Bolsonaro e mais confiável às Forças Armadas, ao mundo político, à mídia e aos agentes econômicos.

Se o presidente Jair Bolsonaro sofrer “impeachment” agora – como consequência das gravíssimas acusações que lhe fez nesta sexta-feira, 24, o agora ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro – haverá nova eleição para presidente.

Algo que não interessa nem ao País, nem à sua população, nem aos seus militares.

Reflitamos!

O pronunciamento de Sérgio Moro – feito de forma serena e tranquila, bem ao seu estilo – teve um conteúdo atômico e surpreendente.

Surpreendente para todos, menos para o grupo de generais que compõem o entorno de Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Moro revelou fatos inimagináveis, deixando bem claro que a preocupação do presidente da República não é só com a pandemia do novo coronavírus, mas também com a integridade dos seus três filhos, cada um deles envolvido nas diferentes investigações em curso pela Polícia Federal – “fake news”, rachadinha, milícia, manifestações a favor da ditadura.

Hoje, parece à opinião pública que a presidência da República está sendo exercida, de fato, pelo ministro chefe da Casa Civil, general Braga Neto, que é um estrategista.

O “impeachment” de Bolsonaro depende do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que pode acatar ou jogar no lixo as 21 solicitações de impedimento do chefe do Executivo que lhe foram encaminhadas por partidos políticos e por dvogados.

Rodrigo Maia – codinome Botafogo nos arquivos do Departamento de Propinas da Odebrecht, e seu colega do senado, David Alcolumbre – são personagens da Operação Lava Jato, de cujos relatórios não consta o nome de Bolsonaro nem de seus filhos.

Mas, agora, o presidente da República e seu trio de rebentos – o 01, 02 e 03 – aparecem nas denúncias do renunciante ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Estão, pois, todos envolvidos nas investigações da Polícia Federal, autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Como o País está vivendo um período de calamidade pública por força da pandemia do coronavírus, uma eleição presidencial agora seria praticamente impossível.

Uma nova eleição, sim, porque o vice-presidente só assume, em casos assim, depois de completada a metade do mandato presidencial.

Diante disso, em janeiro do próximo ano, quando a pandemia já estará controlada e o mandato de Jair Bolsonaro terá completado dois anos, o “impeachment” poderá ser feito, com a posse do vice-presidente, que é quem mesmo?

O general Hamilton Mourão, um homem sóbrio, bem mais equipado intelectualmente do que Bolsonaro e mais confiável às Forças Armadas, ao mundo político, à mídia e aos agentes econômicos.

Eis o que, sob o ponto de vista de hoje, está desenhado.