Carlos Prado: 'O vírus desnuda o homem público e mostra hipocrisia reinante'

"O isolamento oferece tempo para a meditação. A ameaça à vida faz os pensamentos se voltarem para os valores espirituais", diz o empresário, que é vice-presidente da Fiec..

Pai de seis filhos e avô de 13 netos, dos quais está socialmente isolado há 32 dias, patriarca de uma bela e unida família de empreendedores, fundador da Ceará Máquinas  Agrícolas (Cemag) e da Itaueira Agropecuária e líder empresarial (é vice-presidente da Fiec), Carlos Prado 79, reflete sobre esta pandemia que mata pessoas, desemprega trabalhadores, destrói empresas, desarruma a economia no mundo e, no Brasil, causa também crise política.

O que o senhor já aprendeu com a quarentena? - indaga a coluna.

Ele responde:

“O mundo parou. Obrigados, refugiamo-nos em nossos lares como a melhor defesa. Tudo isso acontecendo no momento em que a humanidade, mais do que nunca, aspirava os bens materiais, o luxo, os prazeres que a riqueza podia oferecer, e, graças à tecnologia abandonava o contato humano, o contato familiar".

Após uma pausa, ele prossegue:

"O isolamento oferece tempo para a meditação, para a convivência com os familiares como nunca ocorrera nos últimos anos. A ameaça à vida faz os pensamentos se voltarem para os valores espirituais".

Carlos Prado segue refletindo:

“O comportamento de nossos homens públicos desnuda-os perante o público, revelando a hipocrisia reinante. Esta crise vai passar, mas nada será como antes. Certamente, sairemos mais fortes, espiritualmente mais confiantes nos desígnios de Deus, que coloca um freio, nos faz parar e mudar o rumo de nossa existência, reduzindo nosso materialismo e nos dirigindo ao encontro dos verdadeiros valores que justificarão nossa existência”.

CUIDADOS

Na usina da Companhia Siderúrgica do Pecém, que funciona normalmente, foram adotadas providências que bem poderiam ser replicadas em outras indústrias hoje proibidas de funcionar.

Por exemplo:

A CSP mantém em casa os funcionários com morbidade e com mais de 60 anos de idade;

Os que comparecem fisicamente ao trabalho cumprem as instruções das autoridades sanitárias – mantendo distância regulamentar um do outro;

Boa parte dos colaboradores da área dos escritórios da CSP trabalha no modo “home office”.

É o modelo que as indústrias do Rio Grande do Sul estão seguindo, “o que mostra que a saúde e a economia são complementares”, como disse ontem à coluna um empresário da metalurgia.

COMO SERÁ

Em “live” no fim de semana, o pernambucano Sílvio Meira, professor doutor em Ciência da Computação, e seu colega Divesh Makan, da Iconic, revelaram:

Noventa e cinco por cento das lojas da rede Starbucks reabriram na China, mas o movimento nelas é agora 60% do era antes do coronavírus - as pessoas compram e vão embora, não consomem na loja, o que levará a Starbucks a rever seu modelo, reduzindo o espaço de convivência.

Mais:

A educação online está provando, nesta crise, ser boa alternativa. Haverá uma revolução na forma de se aprender em todos os níveis: sairá o estoque “just in time”, entrará no “just in case”.

E mais:

Mudarão os hábitos de viagem; haverá grande redução das viagens de negócios, que serão substituídas pelas “videocalls”.

E mais:

Direitos individuais x saúde será um dos grandes debates no mundo à medida em que rastrear cada indivíduo é uma das estratégias mais eficazes de controle de epidemias, podendo, porém, ser usada por governos para controlar as pessoas.

E mais: avançará o varejo “on line”, o que já se nota, inclusive, aqui em Fortaleza.  

ALGODÃO

Avançam em ritmo de frevo os trabalhos de preparação das terras que, na geografia do município cearense de Limoeiro do Norte, abrigarão, a partir de junho, o maior projeto da cotonicultura do Ceará.

Esta coluna informa que, dentro de 60 dias, será iniciada a plantação de algodão do que será o mais moderno empreendimento do setor no Ceará.

A área total a ser cultivada é de 20 mil hectares, mas nesta primeira fase serão ocupados apenas 10% dela.

A Embrapa está emprestando consultoria ao projeto, que usará sementes selecionadas e próprias para o tipo de solo da Chapada do Apodi.

O empreendimento é de uma grande empresa do Ceará, com atuação forte no setor da indústria têxtil.

Oitenta por cento da área do projeto serão irrigados com água do chamado aquífero do Açu.

A irrigação será feita por meio de pivôs centrais, que já estão sendo instalados.

A colheita da primeira safra de algodão do projeto está prevista para 100 dias depois do início da plantação das sementes, que, repita-se, começará em junho

ESTÁ NA HORA

Ontem, domingo, no final da noite, as entidades empresariais do Ceará,lieradas pela Federaçõ das Indústrias (Fiec) publicaram um "Manifesto ao Público", em que pedem do governo do Estado providências para a retomada - sob condições - do setor produtivo na indústria, no comércio e no serviço.

Os trechos mais importantes da nota são os seguintes:

"Estamos apoiando todas as medidas do Governo para minimizar os impactos da pandemia e enfrentar a crise e respeitando todas as medidas de prevenção e combate à propagação do vírus, em especial as de isolamento e suspensão de atividades, e, além disso, através de parcerias com a iniciativa privada, estamos em constante mobilização para colaborar com a doação de equipamentos hospitalares, fornecimento de EPI's para hospitais e campanhas de conscientização.

"As entidades que assinam este Manifesto, hoje representam 1.080.000 empregos formais no Estado do Ceará, o que significa 73,3% de todos os empregos no Estado do Ceará e 76,31% do PIB estadual. Desse modo, estão preocupadas em não serem omissas, diante do desafio de manter empregos e salários de seus colaboradores.

"No entanto, é inconcebível que, transcorrido um mês do início do isolamento e já tendo sido anunciado a sua prorrogação até o dia 05 de maio de 2020, conforme Decreto Estadual nº 33.544, de 19 de abril de 2020, o Setor Produtivo ainda NÃO TENHA RECEBIDO NENHUMA PROPOSTA CLARA, nenhum plano específico, nenhum cronograma, sobre nossos principais pleitos para a reabertura dos negócios e a retomada das atividades produtivas, seguindo todas as orientações da OMS.

"Muito pelo contrário, ao insistir em um pseudo conflito de interesses entre a saúde pública e a economia, estamos assistindo medidas que paralisam a atividade produtiva e que terão impactos duradouros e diretos na saúde financeira de todos os cearenses. Nesse sentido, solicitamos a CRIAÇÃO DE UMA COMISSÃO composta por membros do Governo e do Setor Produtivo, para que possamos de forma segura flexibilizar o retorno gradual das atividades empresariais, dentro de padrões estabelecidos por essa Comissão, a fim de que possamos encontrar um caminho que preserve o equilíbrio econômico e social no combate à pandemia. Seguimos abertos ao diálogo e com a certeza que o enfrentamento da pandemia não é só uma questão de saúde pública, mas também econômica e social".