Afinal, o debate: para que serve o açude Castanhão?

Construiu-se o Castanhão na região do Ceará onde menos chove com o objetivo de mandar água para onde mais chove, que é a Região Metropolitana de Fortaleza,

Para que serve hoje o açude Castanhão, cuja capacidade de represamento é de 6,5 bilhões de m³ de água? Esta pergunta está circulando nesta quarta-feira em um grupo distinto das redes sociais.

O que surpreende este colunista não é a pergunta, mas as respostas.

Para um engenheiro, a culpa é da má localização do Castanhão.

“Construiu-se o Castanhão na região do Ceará onde menos chove com o objetivo de mandar água para onde mais chove, que é a Região Metropolitana de Fortaleza, no litoral do Estado” – diz o engenheiro.

Ele tem razão. Em Fortaleza, a pluviometria histórica assinala 1.200 milímetros por ano.

É muita chuva, e toda a água que ela despeja tem um destino: o Oceano Atlântico.

Outro engenheiro explica, também com razão, que o Castanhão foi superdimensionado, e cita o seu colega Cássio Borges como aquele que, pregando no deserto da política e dos políticos, viu vencida a sua tese de construção de médias barragens ao longo do Jaguaribe e não a de um megareservatório que, desde sua inauguração, verteu apenas uma vez, em 2004, quando as comportas celestes se escancaram benevolentemente, e isso não mais aconteceu -o céu tornou-se avaro.

Outra opinião emitida é de um ex-secretário de Estado do Governo do Ceará, para quem o Castanhão foi bem projetado, bem construído e bem localizado.

“O erro foi abrirem as comportas para a liberação de até 20 m³ por segundo, um absurdo, pois ao longo do rio o desperdício é imenso, não só pela infiltração e pela evaporação, mas também pelos desvios criminosos da água”, argumenta ele, igualmente com razão, porque há casos da construção de pequenas barragens no leito do Jaguaribe para a captação da água por motobombas para a produção agrícola e a dessedentação animal, tudo sem qualquer fiscalização ou punição do Estado.

O mesmo ex-secretário diz que a cidade serrana de Capistrano se abastece de uma cisterna construída na década de 50 do século passado por um padre alemão.

Na sequência, um empresário do setor metalmecânico lembra que, em Guaramiranga, no Maciço de Baturité, chove em abundância, anualmente. Na época da estiagem, porém, usa-se a água para lavar calçada, algo que acontece em Fortaleza todos os dias – no verão ou no inverno.

Mais um engenheiro entra na conversa e informa: em Paracuru, no Litoral Norte do Ceará, a pluviometria é alta, chegando a 1.600 milímetros/ano, e toda essa água corre para o mar – só alguns mais inteligentes a reservam em cisternas construídas dentro de sua propriedade.

Mais uma sugestão: que tal privatizar a produção e a gestão de distribuição da água?

O ex-secretário interfere de novo e contra-ataca: “Mas, privatizada ou pública, a água tem de ter um valor. Já pensou se a energia fosse gratuita?”.

No fim do debate, uma constatação: a decisão, como sempre, é política.

É a política que faz – ou deixa de fazer – os arranjos institucionais próprios do regime democrático.