Mas, afinal, o que achamos que vamos encontrar na rua quando, e se, sairmos dessa? É possível que o que encontremos seja algo muito parecido com o que estamos assistindo ao reunir 20 pessoas para confinar em uma casa após quase um ano de confinamento na vida real.
A gente esperava umas discussões por feijão, umas trapalhadas com as regras da casa, um cara meio mala que falasse umas bobagens, uns casais um tanto nada a ver, festas com ar caótico e escolhas musicais duvidosas e uns grupinhos em que a gente decidia qual amar e qual não gostar. Seria o nosso momento de desanuvio, de olhar a fantasia e não a vida real que nos tem pesado tanto. Era hora de se alienar e não precisar lembrar a todo momento da fossa em que estamos mergulhados.
Mas, na real, deu tudo errado. Assim como todos nós, quem entrou no Big Brother Brasil 21 também está com a sanidade mental comprometida. Também viveu o que todos estamos vivendo, cada um na sua proporção e diante da sua realidade, mas no contexto geral de uma pandemia sem data pra acabar.
Todos entraram ali com seu emocional abalado. E toda a nossa expectativa de um momento de descontração e leveza esbarrou na realidade de um grupo tão em frangalhos quanto nós que estamos assistindo.
Nas primeiras horas de confinamento na casa, havia uma euforia angustiada com o toque no outro. "Aqui pode abraçar?", alguns diziam. A gente não sabe mais como se encostar, e quanto o toque é essencial para a nossa socialização, para sentir o outro? Ninguém sabia falar, se expressar, sem cair no choro. As lágrimas desciam a qualquer hora, por qualquer motivo.
E com pouquíssimo tempo passamos a assistir, ao vivo, uma grande bomba relógio explodindo em menos de 24h num alvoroço completo até se tornar essa tortura psicológicaa qual estamos vendo agora. Ninguém se escuta e se dividiram entre uma parte que grita tão alto que não consegue se ouvir e a outra que chora acuada enquanto a voz não sai. O que era pra ser alienação, descontração, virou gatilho para crises de ansiedade e depressão.
Assim como todos nós, quem entrou no Big Brother Brasil 21 também está com a sanidade mental comprometida. (...) E toda a nossa expectativa de um momento de descontração e leveza esbarrou na realidade de um grupo tão em frangalhos quanto nós que estamos assistindo.
Mas, afinal, o que achamos que vamos encontrar na rua quando, e se, sairmos dessa? Euforia, alegria, abraços, sorrisos, tudo em um grande carnaval a céu aberto, com música tocando e pessoas felizes na rua se amando? É bem provável que não.
É possível que o que encontremos seja algo muito parecido com o que estamos assistindo ao reunir 20 pessoas para confinar em uma casa após quase um ano de confinamento na vida real. Pavor, descontrole emocional, inabilidade social, pouca autocrítica e muito dedo na cara, medo do julgamento alheio, falta de empatia e um desejo louco de fazer e falar tudo ao mesmo tempo, atropelando quem estiver na frente.
A gente passa bastante tempo pensando nessa grande festa pós-Covid, quando na verdade ainda sofreremos tanto pelos danos psicológicos causados por estarmos vivendo uma pandemia mundial.
Não é só o isolamento, mas todas as sensações difíceis de lidar com tantas perdas, tantas mortes, o abandono do governo, os negacionistas, as festas clandestinas nem tão clandestinas assim, a vacina que chega envolta em uma triste óbvia corrupção e ela não chegar em nossos braços, os rostos falsamente felizes por meio de filtros publicados nas redes sociais… não estamos vivendo uma normalidade, estamos longe de voltar a vivê-la e, ainda assim, acreditávamos que um programa de TV tipo experimento social confinando pessoas seria a nossa fuga de entretenimento. Ledo engano.
A gente passa bastante tempo pensando nessa grande festa pós-Covid, quando na verdade ainda sofreremos tanto pelos danos psicológicos causados por estarmos vivendo uma pandemia mundial.
Nesse momento, somente a ficção pode salvar nossa fuga em busca da alienação saudável. Qual você escolhe?