Contextualizando: Hadson armou, junto com Felipe, Lucas e Petrix, um plano para desestabilizar algumas participantes do BBB 20. A ideia mirabolante do grupo era usar Lucas e sua beleza estonteante (contém ironia) para seduzir as participantes comprometidas, de forma que elas vacilassem e se queimassem com seus relacionamentos e, consequentemente, com a opinião pública. Além disso, o próprio Petrix confirmou que usaria seus talentos com a dança (kkk) para colocar em prática o plano. Mais: em outra conversa, Petrix e Lucas confirmam que suas namoradas que compreendessem a ideia deles, já que “queimar” as concorrentes seria a única maneira para derrubá-las.
Em relação ao Hadson: ele contou esse plano para Marcella e Gizelly, em uma conversa no sofá, na presença de Felipe. Hadson também tem atitudes e falas que deixam as mulheres da casa extremamente desconfortáveis. Isso, inclusive, serviu ao argumento delas na hora de justificar o voto.
Pois bem, após a votação, as participantes se reuniram no quarto e, aos poucos, foram encaixando as informações e percebendo o jogo sujo deles. E foi na hora de tomar a satisfação que o machismo brilhou. Hadson aplicou uma forma de manipulação muito clássica do machista: o gaslighting.
Segundo o site AzMina, “gaslighting trata-se de manipular a mulher psicologicamente para ter controle sobre ela, ao ponto de anulá-la, gerar inseguranças, dúvidas e medos. Nele, o homem distorce, omite ou cria informações, fazendo com que a mulher duvide de si mesma, de seus sentimentos, da sua capacidade e, às vezes, até da sua sanidade”.
A cena: o jogador mente sobre o plano, diz que nunca tinha dito isso e coloca em dúvida as afirmações de Marcela e Gizely, taxando-as como loucas. Mesmo sabendo que tinha falado, mesmo morando em uma casa em que tudo é 100% gravado, Hadson e os demais se sentem confortáveis o suficiente em desmentir a fala delas e tentar vender a imagem de ofendidos com as acusações. Hadson esbraveja mentiras e desmerece a fala das mulheres. Depois, chora e se diz injustiçado (não se espante de depois dizer que está arrependido e falar que tem mãe). Felipe perde o total controle, grita, aponta dedo e manda outra mulher “segurar a onda”. Lucas fica calado e, depois, chora dizendo que estão ofendendo o seu caráter. Petrix assiste de fora e, percebendo que elas não sabem da sua estratégia, se faz de alguém que não sabia de todo o jogo. Ainda que conscientes das suas atitudes, acreditam que elas não serão julgadas pela sociedade como graves, pois, fora de uma casa vigiada, eles ainda são os donos da razão.
Chamar uma mulher de louca é uma estratégia usada há muito tempo para deslegitimar a fala dela e desestabilizá-la dentro de uma discussão. Posta como desequilibrada, a mulher não é ouvida. O homem segue com o poder da fala e ela, além de tudo, sente-se sem apoio. Não adianta o que ela diga, nada terá credibilidade. Quem não conhece um cara que diz “minha ex é louca”? Acredito que todo mundo. Existem mesmo tantas mulheres loucas no mundo? Ou, estatisticamente, temos mais homens que abandonam as mães de seus filhos e não pagam pensões? E os casos diários de feminicídio?
Ou ainda quem nunca discutiu com um namorado e, no meio do caminho, percebeu que estava pedindo desculpas sem nem saber pelo que? Gaslighting. Já ouviu que estava imaginando, que o que você ouviu ou viu não existiu e que está descontrolada? Gaslighting.
Pelo BBB, pudemos ter uma aula de como essa dinâmica se desenha.
Repense suas atitudes
Um questionamento é: seria essa a edição mais machista do BBB ou estamos, de fato, mais atentas e com menos medo de nos posicionarmos contra ele? O gaslighting foi apenas um dos vários comportamentos machistas observados em apenas 13 dias desta edição do BBB. Entre episódios de assédio e comentários absurdos, o comportamento tóxico de alguns participantes tem gritado desde o início do jogo. O próprio jogo sujo deixa claro de que forma os homens observam as mulheres que são suas adversárias lá dentro. Em vez de buscar estratégias dentro da casa, eles apostaram em um linchamento público da moral delas, caso traíssem seus namorados. Eles, também comprometidos, se mantêm na certeza da impunidade amparados pelo machismo de que, caso executassem o plano, seriam perdoados. Elas, as “meretrizes”, jamais.
Depois de toda a exposição, alguns já estão chorando e dizendo que não são machistas, pois “foram criados pela mãe e têm irmãs”, como se devessem ganhar um prêmio de reconhecimento por conviver com mulher. Muito parecido com o argumento do “não sou homofóbico, tenho até amigos gays” ou “não sou racista, minha empregada (negra) é como se fosse da família”.
Na conversa no quarto entre as mulheres, várias também se diziam desconfortáveis pelos olhares e comentários de Hadson. “Não tenho coragem de ficar de biquíni na frente dele”, disse Flayslane. Na justificativa para seu voto, Manu Gavassi confirmou o desconforto da presença e fala do jogador. No confronto direto, Rafa declarou a ele: “que você repense suas atitudes machistas”. Será que repensarão?
Curiosidade - origem do termo gaslighting
Via AzMina
“O termo gaslighting tem origem no filme ‘Gas Light’ (À Meia Luz), de 1944, estrelado por Ingrid Bergman e Charles Boyer. O longa é uma adaptação de uma peça de teatro de 1938. Na trama, o marido tenta convencer a mulher, e as pessoas que a cercam, de que ela é louca, manipulando pequenos elementos de seu ambiente e insistindo que ela está errada ou que se lembra de coisas de maneira incorreta.
O título do filme faz referência às lâmpadas da casa dos personagens, que são alimentadas a gás e, em certo momento, piscam. A mulher nota, mas o marido a faz acreditar que está imaginando coisas. Ele se apresenta inicialmente como um homem encantador, mas, aos poucos, faz com que a mulher duvide da própria sanidade para roubar rubis que estão escondidos na casa dela.”