Desafeto declarado de determinados padrões educacionais, chegando a xingar de “energúmeno” um dos mais destacados expoentes do ensino em todo o mundo, o pernambucano Paulo Freire, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu elaborar mais uma frase que certamente deve constar dos anais da política.
Disse ele: “Tem livros que vamos ser obrigados a distribuir esse ano ainda levando-se em conta a sua feitura em anos anteriores. Tem que seguir a lei. Em 21, todos os livros serão nossos. Feitos por nós. Os pais vão vibrar. Vai estar lá a bandeira do Brasil na capa, vai ter lá o hino nacional. Os livros hoje em dia, como regra, é um amontoado… Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo”.
Sim, você leu certinho.
O presidente reclamou mesmo de que os livros têm muita coisa escrita. Podemos até juntar a isso a observação de que essa “muita coisa escrita” usa letras e sinais de pontuação. Ora, se usa!
Bolsonaro acredita, sem pudor, que o saber tem de ser suavizado.
Possivelmente, acha que se deve pasteurizar o conhecimento para que se adeque, entre outras coisas, à ideia desairosa que faz de Paulo Freire. Ou à consideração que elaborou sobre o fato de os nazistas terem dizimado mais de 6 milhões de vidas na II Guerra Mundial (“é possível perdoar o holocausto”). Ou sobre o fato de muitos de seus apoiadores acharem que a terra é plana. Ou o de que seu líder maior, o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, imaginar que as músicas dos Beatles serem de autoria do filósofo Theodor Adorno. Ou de achar que o nazismo (sim, de novo!) era um movimento político de esquerda.
É evidente que quem tem o que fazer não vai perder tempo debatendo coisa assim.
Mas, pensando melhor, muito melhor, é recomendável que as frases de Bolsonaro não constem de anal nenhum.