Alvim não é e nem será o último

Não espanta somente o fato de o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, ter copiado um texto de um líder nazista e executor de políticas de Adolf Hitler e apresentado como se suas fossem palavras de escancarada hostilidade com os sentimentos populares. Assustadora mesmo é a constatação de o golpe retórico de Alvim espelhar posições do que se presume ser uma multidão, num despudorado gesto de radicalização no sentido da exclusão e da elitização de atividades culturais e artísticas.

Alvim desabou, sob a pressão intensa de movimentos vários da sociedade, inclusive além-fronteiras, mas deve-se reconhecer que o ideário avivado por ele continua firme e forte. É um ideário que permanentemente arreganha os dentes contra direitos sociais. E deve a sociedade, num mea-culpa coletivo e dramático, assumir que coube a si permitir o acesso de pensamentos desse calibre ao núcleo do poder.

Em pleno século XXI, a descarada clonagem de palavras de Joseph Goebbels - um psicopata inconteste, o que atesta o modo como deu termo à própria vida e à da família - deveria ser tratada como caso de hospício ou de cadeia. Foi repudiada e até ridicularizada - o que, cabe aos de bom-senso advertir, não há de bastar.

O ódio desavergonhado contra quem ao menos discorda dos argumentos desses personagens, como o que foi arremetido na forma de garrafas flamejantes em direção à produtora do grupo de humoristas Porta dos Fundos, ou como os ataques insanos que se desferem à memória da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do educador Paulo Freire, ilustra de maneira muito lúgubre esse estado de coisas.

A cena em que o mal iluminado e teatral ex-secretário se confrontou no palco político com uma platéia aturdida mas indignada é, devemos acreditar, só a sequência de um enredo em que a intolerância, o estupidez e o monumento à agressão servem de nota para afinação de uma orquestra dantesca.

É possível que Roberto Alvim, assim como tentar expor o próprio fel, tenha tentando também bajular chefes e chefetes. E a condição de puxa-saco só agrava a lesão que ele buscou provocar.

Não foi a primeira vez, afinal, que se pode ouvir sandices como aquela. O pior é a percepção de que não haverá de ser a última.


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