Considerações que merecem ser foco de ponderações:
“Acho ridículo prender um menino por fumar um cigarro. Eu não recomendo nenhuma droga, pelo contrário”; “Por que existe o narcotráfico? Por dois motivos: porque existem consumidores e porque proibimos o consumo. E, ao proibir, o transformamos em um negócio fantástico, porque tudo que é proibido custa muito mais”.
São palavras do senador uruguaio José “Pepe” Mujica. E admitamos: Mujica está coberto de razão.
Ex-presidente do país ao qual serve agora como legislador, Pepe Mujica atraiu para si o preconceito, o rancor e a incompreensão - no geral em doses odientas e odiosas, fundamentalistas ou não - ao se posicionar firmemente em relação ao grave problema das drogas. Isso, porém, não o fez nem o faz arredar pé de análises que têm muito a ver com inclusão, acolhimento e tratamento devido à questão e aos que nela estão envolvidos. Isso, ao que parece, não o intimida.
Mujica diz que é mais humano e justo implementar ao assunto medidas na área da saúde do que na da repressão. Pode-se acrescentar com a avaliação de que a condução do tema sob esse prisma é moderna e não é medieval, como algumas correntes de pensamento tentam impor, e não é hostil aos direitos do ser humano, privilegiando a vida em sociedade em detrimento da exclusão.
É evidente que nem em países onde se dá atenção jurídica diferenciada a esse debate há frouxidão para o tráfico - e isso está longe do que acham personalidades como Pepe Mujica e o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Existe, sim, a perspectiva de uma migração de prioridades. E o senador uruguaio reconhece isso: “Vamos ter um problema médico, mas, no lugar de gastar em aparatos de repressão, vamos gastar com enfermeiros. (…) Para isso tem que haver muita coragem política”.
Quem tem parente ou amigo doente de drogas, e acha que ele merece tratamento e não mofar na cadeia, certamente entende isso com nitidez.