Confirmando as expectativas da administração do Aeroporto de Fortaleza, o terminal encerrou o ano de 2020 com 43,5% da movimentação de passageiros do ano anterior (3 milhões ante 7 milhões) - o menor patamar anual desde 2006 (2,9 milhões), segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A boa notícia é que grande parte desse tombo - embora não todo - deve ser recuperada neste ano. Desde a queda drástica de 96,1% em abril, o primeiro mês completo de restrições das atividades econômicas, a movimentação de passageiros do terminal cearense vem crescendo constantemente em relação ao mês anterior.
Com a reabertura dos mercados e sinais de luz no fim do túnel com o início da vacinação, a expectativa é que o ano seja de retomada, segundo avalia Alessandro Oliveira, coordenador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
"Não quer dizer que a gente vai retomar e alcançar o ponto perdido do início do ano passado, mas as expectativas se refazem, mais orientadas, mais para otimismo do que pessimismo. Daqui, a gente só tem a crescer", prevê o coordenador.
A expectativa é particularmente positiva para o Aeroporto de Fortaleza e de outros destinos turísticos. "Os aeroportos do Nordeste têm boas perspectivas pelo fato de que a queda maior esperada é dos passageiros a negócios. Passageiro turístico está doido para voltar a viajar. Se a questão sanitária se resolve, locais turísticos têm boas perspectivas. Estou otimista!", destaca.
O grande risco agora, avalia Oliveira, pode ser o Carnaval. De fato, apesar das medidas já aplicadas pelo poder público para evitar que grandes aglomerações sejam realizadas, como a proibição de festas e de consumos de bebida alcoólica após às 22h, grupos que insistam em quebrar as regras e protocolos podem provocar grande disseminação do vírus em um período que a vacinação ainda é muito incipiente.
Caso a disseminação, que já está em um patamar elevado em várias cidades do País saia do controle, é possível que medidas mais drásticas precisem ser tomadas, prejudicando a atividade econômica e causando um novo baque ao mercado aéreo.
Como a pandemia afetou o mercado aéreo local?
O choque causado pela crise desencadeada pela Covid-19 ainda acabou por ampliar diferenças na movimentação de passageiros entre aeroportos da região Nordeste. No topo do ranking regional há quatro anos, a participação do Aeroporto de Recife cresceu de 23,7% para 25,1% do mercado no período.
Já Fortaleza, em terceiro lugar há pelo menos vinte anos no ranking, perdeu parte do que havia conquistado no ano anterior com uma redução da fatia de 18,9% para 17,04% de participação no mercado nordestino.
Foi em 2019 que a Capital chegou mais perto, em duas décadas, de alcançar a movimentação do aeroporto de Salvador, que também viu sua fatia de mercado cair no ano passado, mas apenas de 19,7% para 19,5%.
O Aeroporto de Fortaleza ainda conseguiu manter a liderança na movimentação de passageiros internacionais no Nordeste em 2020, posição que foi conquistada no ano anterior, quando ultrapassou o de Recife após um ano de operação do hub da Gol e Air France/KLM.
Mas acabou perdendo uma posição no ranking nacional, caindo da quinta para a sexta colocação, atrás de Guarulhos, Rio de Janeiro, Campinas, Brasília e Florianópolis.
Como ficou o market share das companhias?
Só a Gol Linhas Aéreas foi responsável por transportar 1,3 milhão de passageiros no Aeroporto de Fortaleza no ano passado, mais de 42% do fluxo no terminal. A companhia ultrapassou a Latam e abocanhou a maior fatia do mercado local, que em 2019 era de 34,8%.
Mas a Latam não perdeu tanto espaço - com 1,1 milhão de viajantes na Capital, a companhia ainda foi responsável por 36,8% da movimentação de passageiros em Fortaleza no ano passado, participação que era de 40,7% no ano anterior.
A Azul, que concentra as operações no hub em Recife, também ampliou a presença no Aeroporto de Fortaleza, passando de 15% em 2019 para 17,2% em 2020, assumindo parte dos horários deixados pela Avianca, que encerrou as operações em 2019.
O mercado local mostra, portanto, que continua muito competitivo apesar das perdas provocadas pela pandemia, sem cair em um "monopólio" de nenhuma das empresas aéreas. Com o acirramento da concorrência, ganha o consumidor e também a administração.
"Novas empresas que surjam vão com certeza tentar buscar espaço, e elas começam do zero, então tudo que vier é lucro. Há boas perspectivas para as pequenas e as grandes vão ter que reagir. Elas já estão se preparando, como o acordo de codeshare da Azul com a Latam, são empresas fortes, aguerridas. Vai ser difícil para as pequenas, mas, por outro lado, nunca houve tanto espaço para crescer", aponta Oliveira. Será um ano interessante para o mercado aéreo.