As divergências políticas entre as chefias do Paço Municipal e do Palácio da Abolição não eram tão acentuadas desde a década de 1990 com Juraci Magalhães (PMDB) no comando da Prefeitura de Fortaleza e as gestões tucanas sob a liderança do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) no Estado.
Com um rompimento pontual já no fim da gestão entre Luizianne Lins (PT) e Cid Gomes (PSB), em 2012, só agora é possível enxergar com mais clareza os impactos de um distanciamento não apenas político, mas também administrativo entre o Estado e a Capital. Os prejuízos são admitidos pelo governador Elmano de Freitas (PT) em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste.
Se há inúmeras divergências entre José Sarto e Elmano de Freitas, um ponto central que ambos concordam é que há impactos graves à população. Pautas urgentes da cidade mais populosa do Nordeste, como saúde, segurança e geração de empregos, aparecem como as áreas de maior prejuízo em meio ao estremecimento de discurso entre as duas lideranças às vésperas de uma eleição municipal.
Muito à vontade, na última quarta-feira (29), no Palácio da Abolição, logo após uma agenda cheia de reuniões, Elmano recebeu a equipe do Diário do Nordeste e lembrou das promessas que fez na área da educação – como universalizar escolas de tempo integral –, justificou as mudanças em diversas secretarias e em suas vinculadas como caminho para entregar os resultados, e admitiu preocupação nos índices de segurança pública.
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Karine Zaranza - Governador, primeiro, como está sua saúde?
Hoje eu bati meu recorde. Andei 6 km em 63 minutos. Então eu estou ótimo, graças a Deus. Estou fazendo atividade física e melhorei muito. Primeiro, curei de fato a pneumonia, né? Eu tinha uma bactéria muito resistente, não comum no Brasil. Demorou o resultado do tratamento. Tive uma dificuldade até que a gente conseguiu resolver. Tinha uma dúvida se eu tinha ou não uma microbactéria. Ficou em laboratório e aí demora mais. Às vezes demora 60 dias para poder ter um resultado seguro. Saiu resultado. Não tenho, então está absolutamente superado. Já suspendi todos os remédios. E acho que vou tirar até os remédios que eu tomava antes da pneumonia.
Wagner Mendes - Por que a reforma do secretariado ocorreu nesse momento em menos de um ano e meio de governo?
Uma combinação de dois fatores. Primeiro, ao final do ano, a gente fez a avaliação do secretariado. Só que eu fiquei doente. Então, eu tive que cuidar da minha saúde. E junto disso veio aparecendo o prazo eleitoral. Eu tenho o caso da Luisa (Cela) que o partido solicitou que ela ficasse à disposição para uma possível pré-candidatura ou candidatura. Eu tenho a situação do Quintino (Vieira), que havia uma discussão entre nós de ele poder ajudar muito em campanhas. Tinha a segurança que a gente tinha avaliação da necessidade de fazer alteração mesmo pelos índices, pelos dados, achamos que era o caso. Isso também indicou o remanejamento de pessoas. O Valdeci (Rebouças) estava na Etice (Empresa de Tecnologia da Informação), ele foi para a SOP (Superintendência de Obras Públicas) e na hora que ele vai para a SOP eu preciso ter alguém na Etice. A Junta Comercial, que é a Carol, que fez uma mudança muito significativa, ela reduziu o prazo de abertura de empresas no estado, nós temos uma avaliação muito positiva dela, de muita competência. Mas ela tinha um mandato na Jucec que encerrava. Nós achamos que ela poderia contribuir muito na CearaPar. Ela foi deslocada para a CearaPar. Então, nós vamos nomear alguém para a Jucec em diálogo com ela. Na verdade, foi nesse momento porque tinha um conjunto de fatores: balanço e prazos eleitorais e prazos de mandato que precisava cumprir.
Wagner Mendes - O senhor fez esse ajuste pensando em deixar o governo mais a sua cara?
Não pensei nisso. Na verdade, a gente vai avaliando e vai discutindo. Eu sempre penso assim: tais políticas exigem pessoas com tais perfis. E isso resulta em tal nome. A gente fez a mudança na Secretaria do Planejamento. Eu já trabalhei com Cialdini, sei da capacidade dele, o conheço, sei da sua capacidade de elaboração. Então, assim, não vou dizer que alguém tem que ter a minha cara. Mas é uma pessoa com quem eu compartilho de muitas ideias. E situações que não se tratam disso, se trata de prazos eleitorais. Outra coisa, né? Ou pessoas que a gente precisa delas para cumprir outras missões. Mas não, não pensei assim que ‘ah, isso aqui vai dar uma cara mais ou menos do Elmano’. O que a gente é julgado mesmo é pela entrega que será realizada. Eu tenho que estar focado é: em que isso vai aumentar a capacidade das entregas daquilo que eu me comprometi na campanha eleitoral? Isso para mim é o foco central.
Eu tenho que fazer as obras do ITA, eu tenho que recuperar as estradas, eu tenho que fazer 137 escolas. Estamos com 30 em construção. Daqui a pouco nós já estamos licitando mais 40 e até agosto eu quero ter todos os terrenos resolvidos. Se não me engano, faltam três terrenos de 3 municípios só para as 137. Porque eu me comprometi a ter 100% dos alunos em escola de tempo integral. E, para eu ter isso em 2026, eu preciso começar tudo esse ano. Na minha cabeça, eu preciso ter alguém na SOP que dê conta disso tudo. O Valdeci foi para a Etice. Na Etice quando ele assumiu ela estava deficitária e virou superavitária, os serviços melhoraram, os custos baixaram, então ele demonstrou muita capacidade de realização. Me demonstrou uma capacidade de execução, além da confiança que tenho nele, que foi meu chefe de gabinete, o conheço há muitos e muitos anos. Mas não é só questão de confiança ou minha cara, porque se ele tivesse ido mal na Etice ele não iria para a SOP. Esses são meus critérios.
Wagner Mendes - O Quintino está saindo da gestão para cuidar das campanhas?
O grupo político solicitou que nós liberássemos o Quintino para ajudar nas campanhas. Exatamente de qual campanha ele vai ajudar, se na campanha do Evandro, ou na campanha do Catanho ou na campanha de alguém eu não sei. O grupo político solicitou que ele fosse liberado porque a experiência que ele tem de estruturação das campanhas ele era muito importante.
Wagner Mendes - Nos bastidores há um ruído sobre a saída do secretário aparecendo como uma surpresa.
Os bastidores gostam de muita fofoca. Às vezes procede e às vezes não. O motivo foi esse.
Dahiana Araújo - E há expectativa de mudança em alguma outra secretaria?
Nesse momento não. O que eu queria fazer de alteração eu fiz agora. Pode ter mudança no futuro? Mas, assim, de pacote, de número maior foi agora. Pode ser que tenha uma mudança pontual ou outra, mas não tem, nesse momento. Eu devo ter uma reunião de secretariado dessa equipe toda dia 8 de junho.
Dahiana Araújo - Mas até lá se mantém o mesmo secretariado?
Se mantém. Não tem previsão de mudança.
Dahiana Araújo -Vou pegar o gancho aqui da Educação que o senhor falou acima: tem duas medidas que o senhor, e a secretária de Educação, Eliana Estrela, haviam falado há algum tempo que é a construção de novas escolas de tempo integral. O Ceará precisaria de mais de 100 novas escolas para universalizar o tempo integral em 2026 no ensino médio. E outra medida para também tentar fortalecer o tempo integral seria uma espécie de bolsa permanência, que eu acho que era até alguma coisa meio parecida com o Pé de Meia do Governo Federal. Como está esse planejamento para educação?
Na verdade, nós fizemos um estudo de demanda. Quando eu falo 137 escolas novas, são escolas que vão subir do chão tudo. Eu tenho outro conjunto de escolas que eu vou ampliar a sala, reformar, fazer laboratório, climatizar. Eu vou fazer muito mais obra em escolas. Quando eu falo 137 escolas, eu estou falando 137 escolas, que custa de R$ 10 milhões a R$ 18 milhões, cada. Nós vamos fazer um investimento aí de R$ 1,4 bilhão para fazer essas 137 escolas novas. Em regra, todas com 12 salas de aula, 4 laboratórios, com quadra. Tudo isso novo. Eu ainda vou ter que fazer a melhoria de escolas indígenas, escolas quilombolas.
Dahiana Araújo - Hoje, dessas 137 quantas estão em obra?
Trinta em obras agora. Quarenta eu devo lançar nos próximos dias, vão todas para licitação. Significa que nós resolvemos o terreno, o terreno está escriturado no Estado. O arquiteto pegou o projeto da escola para aquele terreno, fez o projeto, fez a referência técnica para uma licitação, e estão indo todas as 40 para PGE (Procuradoria Geral do Estado), para licitar. De outro lado, eu tenho mais mais 52 que estão fazendo o projeto ou estão regularizando o terreno para eu fazer um outro pacote. A nossa meta é, até agosto, setembro, todas estarem licitadas ou em licitação, para até o final do ano, todas estarem com as obras iniciadas. Daqui em diante vamos ter, talvez todo mês, até o final do governo, escola sendo inaugurada. Nós estamos com 70% das escolas já em tempo integral. Eu recebi com 60%, estamos com 71%. Só que agora ficaram as escolas maiores, porque esses 30% tem quase metade da rede. Então, metade da rede no nosso governo, em 4 anos, vamos colocar tempo integral. É um esforço muito grande e só é possível graças a uma definição do governo de Camilo, que foi pegarmos o precatório do Fundef. Uma parte foi para os professores, 60%, e 40% nós reservamos para a construção do projeto de escolas de tempo integral. É esse recurso que ninguém mexeu para poder a gente garantir a construção dessas escolas.
Dahiana Araújo - E tem previsão de concurso para essas escolas?
Nós estamos discutindo. Em algum momento nós faremos concurso. Mas vamos discutir o momento exato em que vamos realizar isso. Nós não decidimos ainda em virtude de quê? Porque eu tenho hoje no Estado do Ceará um absoluto compromisso com o equilíbrio fiscal e depois de despesas de pessoal, eu estou no limite. Então, eu tenho negociação com servidores, eu tenho reajuste a fazer na negociação de salarial desse ano, já teve dificuldade. Outro ano vai ter outra negociação. Estou vendo os concursos. Eu tenho que fazer um concurso da Adagri (Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará). Sob pena. Se não fizer o concurso, o estado do Ceará não ganha a certificação internacional de ser livre de febre aftosa sem a vacinação. Eu preciso fazer o concurso. Eu estou fazendo priorização nessas áreas, que a situação é muito imediata e urgente.
Nós entramos no governo com o Estado muito equilibrado, vírgula, que teve um ataque de uma lei complementar, portanto não foi um desequilíbrio de planejamento do Estado, mas uma lei complementar do Congresso Nacional, não do Estado, que retirou do Estado R$ 2,3 bilhões/ano. Eu sentei aqui, e disseram: 'Governador, tenho uma notícia pra lhe dar. Eu disse: o que é? Esse ano o senhor tem R$ 2,3 bilhões a menos'. (Referente a ) ICMS de energia, combustível, comunicação. Evidentemente que 2024 eu tive que fazer as medidas. Não é que a gente deu reajuste para servidor que extrapolou folha, que a gente foi irresponsável, é que a receita do Estado baixou.
Dahiana Araújo - Em relação ao tempo integral, nesse desafio de manter alguns estudantes na escola, principalmente no Ensino Médio, vocês pensam ainda nessa bolsa permanência ou com o pé de meia acabou resolvendo?
Nós entendemos que o que o pé de meia resolveu bem isso. Ceará, inclusive, vai aumentar (o número de estudantes beneficiados). Nós vamos chegar algo em torno de 250.000 jovens recebendo o pé de meia no Ceará. Se não me engano, é o 256 mil o último dado que eu vi de simulação. Portanto, o jovem da escola pública cearense é um jovem pobre. Porque ele é necessariamente do CADúnico para ter direito. E o que nós fizemos foi fazer uma bolsa para tentar incentivar uma área que para nós ainda é… Todas as áreas da educação são desafiadoras, mas tem uma área especial que nós estamos jogando luz sobre ela. Nós não estamos escondendo o problema, ao contrário, nós estamos jogando luz para buscar enfrentar, que é a Matemática. Nós criamos uma bolsa para jovens mulheres, que nós queremos dar mais protagonismo e garantir que as mulheres possam (ser incentivadas). A gente está vendo agora, pensando talvez algumas coisas desse tipo, mais pontuais.
E eu, pessoalmente, tenho uma preocupação que talvez merecesse nós ampliarmos as bolsas do estudante que entrou na universidade. Se eu vou construir uma rede pública de educação que o jovem passa o dia na escola, eu não posso deixar que esse jovem (sem recursos) pra entrar na faculdade. Nós vamos, daqui a pouco, anunciar o número de jovens nossos que passaram no Enem, é um número significativo de escola pública e eu não quero que esse jovem abandone a faculdade por uma situação financeira. Eu estou imaginando que nós temos que garantir que temos escolas de integral, e nós vamos, cada vez, melhorar mais, como o resultado (do indicador nacional do MEC sobre alfabetização) que tivemos ontem do nosso ensino fundamental - nós estarmos com a meta de de 85% (de crianças alfabetizadas), quando a meta para o país é 80% em 2030. O resultado da avaliação foi feita ano passado. Em 2023, o Ceará alcançou uma meta aqui para o Brasil é 2030, e mesmo assim, é o que eu disse lá: nós não podemos estar acomodados, pois tem 15 crianças, descobrir porque elas não aprenderam, para chegarmos a 100%. Essas 85% de crianças vão cada vez ter um nível melhor nos anos seguintes, elas vão ter um nível melhor no ensino médio.
Vão ser jovens que vão chegar muito mais qualificados no ensino superior, e esse jovem não fazer uma faculdade porque (não tem recursos). Então eu estou achando que em algum momento que parte orçamentária nos permita, vamos alavancar uma política estudantil universitária mais intensa. Nós aumentamos os nossos restaurantes universitários. Nós estamos ampliando o nosso ensino superior, nós aumentamos bastante o orçamento das universidades, mas a política estudantil nossa ainda precisa avançar.
Dahiana Araújo - Estamos tanto com a Uece como outras universidades estaduais em greve, há 2 meses. Sabemos que já houve rodadas de negociações, sabemos que tem muito a ver com o reajuste dos professores, mas que também existem outras demandas, principalmente da Uece, que vêm de outras gestões, demandas estruturais, falta de professores, foi feito um concurso que não foi suficiente, e a a gente gostaria de saber qual é o principal gargalo para atender essas demandas das universidades estaduais?
Primeiro, é muito importante dizer que desde que nosso projeto político assumiu o Ceará, em 2007, o orçamento da nossa universidade mais do que praticamente triplicou. Todas as três. Se você olhar o orçamento da Uece em 2007 e olhar o que é hoje, ele é mais que o triplo, em todas elas, não tem nenhuma que não seja. Dois: o nosso professor universitário, ele ganhava muito menos do que os outros professores universitários. Professores da Universidade Estadual do Ceará ganham mais que os professores da UNB. Eles ganham melhor que os professores da federal. A média salarial dos nossos professores universitários é de R$ 14 mil. A média! Portanto, eu tenho um professor ganhando R$ 18 mil, ganhando R$ 17 mi, R$ 15 mil.
Eu sou o governador de um estado em que o povo cearense vive com 2 salários mínimos, e olhe lá. Grande parte do mercado informal. O meu pensamento é que eu propus um reajuste de 5.6%, descomprimi a carreira do professor para que ele possa ter um acréscimo na sua carreira de professor, que ele pudesse, que hoje ele não pode, como pode na UFC, ele sendo assistente, ele ir pra titular, sem ter que fazer um concurso, ele ir direto, e a categoria entendeu que, mesmo assim, não era suficiente.
Eu acho que nós temos uma diferença de compreensão, porque o orçamento do estado é o mesmo para professor que ganha R$ 14 mil, mas é o mesmo para a pessoa que precisa garantir o Ceará Sem Fome. O reajuste que nós demos aos servidores do estado custa por 6 meses, que o reajuste foi de julho a dezembro, no orçamento do Ceará, R$ 530 milhões. Portanto, em 2025, ele custará R$ 1 bilhão, os 5.6%. R$ 1 bilhão a mais no salário dos servidores não é um valor pouco significativo pra uma população que não tem casa para morar, que não tem comida para comer e, efetivamente, que eu tenho que ser um governador que reconheço que o professor deve ganhar R$ 14 mil, que ele merece um reajuste, que eu tentei dar acima da inflação. Mas eu não posso pegar mais R$ 1 bilhão e tirar R$ 500 milhões do Ceará Sem Fome e tirar R$ 500 milhões de um programa de habitação para dar para esse professor que já ganha R$ 14 mil.
Eu preciso dizer, você vai ter 5.6%, você vai ter uma ascensão funcional, mas eu vou garantir o Ceará Sem Fome. Nós temos uma discussão a fazer, porque eu acho que é disso que se trata o orçamento. E lembrando que eu estou no limite do que é o limite de alerta de gasto com servidores. E uma coisa que para mim não tem como eu negociar: eu não colocarei o estado fora do seu equilíbrio. Não tem negociação, nesse aspecto eu não tenho como abrir mão de um estado se manter de maneira equilibrada, por vista fiscal. E eu tenho que manter equilibrado com gasto pessoal, com investimentos e com atendimento prioritário às populações mais carentes. É um pouco essa nossa dificuldade, da nossa visão.
Os professores da Urca aprovaram a nossa proposta, mas eu penso que nós vamos continuar dialogando para tentar encontrar uma solução, porque eu vejo assim: os alunos da Uece, um grande número tem bolsa; as famílias dos alunos da Uece talvez ganhe em média 10% do (que ganha) seu professor. E acho que não é justo esse professor de R$ 14 mil não dar aula para um aluno que a família dele ganhou R$ 1.400, R$ 1.500, R$ 2.000. Não acho justo, politicamente. Estou falando não como um governador, como cidadão, como militante de um projeto político que defende a educação pública, universidade pública, mas que tem um olhar para a população mais carente do estado, de maneira mais intensa.
Karine Zaranza - Governador, quando o senhor assumiu o governo, o senhor decidiu por uma política de continuidade dentro da segurança. O que o senhor considera que deu certo e o que não deu para que houvesse essa mudança agora? E quanto que a pressão política influenciou nessa decisão pela troca de comando da SSPDS?
Pressão política zero. O que mais me influenciou é perceber na população uma profunda sensação de insegurança. Mesmo quando os índices do Ceará de segurança no primeiro ano do governo, até mais ou menos setembro, os índices de homicídios, de furto e de de roubo estavam diminuindo. Mesmo quando os índices diminuíam, a sensação de segurança, onde eu andava, das pessoas era o aumento do medo.
Nós fomos avaliando que tinha algo que não estava dando a devida resposta à população. Se eu pudesse dizer assim, numa síntese, a coisa que talvez ainda a gente esteja precisando fazer mais alteração é a população sentir com mais intensidade a presença do Estado. Nós investimos mais em tecnologia. Vamos já colocar na rua mais policiais militares, mais policiais civis… Fizemos compra de equipamentos. Eu continuo acreditando que nós temos que fortalecer muito no Ceará, Polícia Civil, Inteligência que nós vamos estruturar, mantendo a Polícia Militar forte. Mas isso tem que corresponder à mais presença do Estado nos territórios. O cidadão perceber que quando ele sai à rua, quando ele vai para o trabalho, o Estado está presente para protegê-lo.
O perfil do novo secretário de segurança, de ter sido o homem do BOPE, de ter sido da Polícia Militar, depois se formado em Direito, ter ido para a Polícia Federal, ser um delegado reconhecido, porque tem essa característica de ser capaz de planejar, de pensar a estratégia, e ao mesmo tempo ter muito conhecimento de campo, de disputa de território, como policial, como tenente coronel da PM, do Bope. Eu acho que ele tem características importantes. E eu precisava ter a mudança de um secretário que compreenda e tenha a percepção do que é que vamos realizar para deixar esse cidadão mais tranquilo.
Karine Zaranza - O Ceará terminou o primeiro ano com o mesmo índice de homicídios do ano anterior, mas este ano a gente já tem um aumento. O que é que o senhor acha que, para além de uma política de segurança ostensiva, o senhor acha que isso vai conseguir reduzir essa esse número?
Primeiro, o que gera grande parte do aumento de homicídios é disputa de territórios de organizações criminosas disputando pontos de venda de droga. Grande parte das mortes que nós temos no estado do Ceará são jovens que foram capturados por uma organização criminosa, que vão matar outros jovens, também capturados, que são colocados em uma guerra. A minha compreensão é de que a gente só vence isso com muita inteligência e Polícia Civil para investigar a cabeça da hierarquia dessas organizações. Uma parte dela está no Ceará e outra parte dela não está no Ceará. A minha busca pelo diretor geral da PF tem a ver com a compreensão que tenho, porque eu queria que o diretor geral pudesse conversar conosco, porque eu só creio que nós somos capazes de vencê-los, de diminuir a força deles, a gente tendo muita integração com o governo federal.
Eu preciso ter uma Polícia Civil muito mais forte para que, especialmente os chefes, quando forem presos, tenham muita dificuldade de serem soltos. O sistema carcerário nós temos hoje o controle. Não é assim em todo o País. Há vários estados em que o sistema carcerário, o Estado, não tem controle. Quem controla são as facções. Isso não acontece no Ceará. Mas nós temos agora que ter o controle das ruas. Esse é o nosso desafio.
O que nós estamos discutindo é ação conjugada. Nós já vimos conversando desde o começo do ano. Nós fizemos pesquisas, nós temos dados das áreas com maior índice de violência. Nós fizemos reuniões com toda a área social do governo e nós vamos fazer ações articuladas muito intensamente das forças de segurança com as políticas sociais. E nós vamos fazer projetos de longo prazo para ficar muito evidente que aqueles projetos vão ficar por muito tempo naquelas áreas.
Karine Zaranza - O novo secretário já foi secretário do Rio de Janeiro, do Espírito Santo. Os dados que nós temos é que os números de homicídios nesses estados não caíram enquanto ele esteve nesses locais. O que ele pode fazer de diferente, aqui no Ceará? O que o senhor pediu a ele?
Primeiro, é importante entender: quando o Roberto Sá foi secretário do Rio foi uma fase que o Rio entrou numa calamidade financeira. É importante nós lembrarmos o contexto. O que é que uma calamidade financeira? São os servidores do estado não receberem salário. Você imaginar que os policiais militares que estão na rua, estão com salario atrasado. É você saber que metade das viaturas da polícia do Rio de Janeiro, na calamidade financeira, não podiam ir para a rua porque não tinha dinheiro para pagar gasolina ou trocar o pneu que furou ou trocar uma peça que quebrou do carro. O índice naquele momento aumenta, porque, na verdade ele tinha metade da tropa na rua. E não porque não tinha policial, porque não tinha como colocar na rua. Então, num outro momento em que a situação não era essa, os índices tinham diminuído.
No Espírito Santo, diminuiu, diminuiu e depois houve um aumento. E tinha uma situação política no Espírito Santo, e eu conversei com o governador do Espírito Santo. As referências melhores possíveis é de que, havia uma situação com um caso da PM e ele precisou em determinado do momento colocar como setor de segurança o então comandante da polícia militar. Foi mais uma circunstância política local. Mas um período que ele esteve em grande parte do tempo reduziram. E tenho muita confiança no secretário que nós escolhemos para a ter uma alteração significativa, não da noite pro dia, todo mundo sabe que não é assim. Nós temos dificuldade nas nossas fronteiras. Nós compramos equipamentos para controlar as fronteiras do Ceará. Nós também vamos apresentar essas essas ações. Nós não temos controle das fronteiras do Brasil, mas podemos ter uma atuação mais forte nas fronteiras do estado.
Karine Zaranza: E vai haver alguma mudança no comando da Polícia civil e da Polícia militar?
Quando conversei com o doutor Roberto, ele tem plena liberdade de montar equipe. Ele já pediu o relatório dos coronéis e vai ter conversa com o comandante geral e de parte dos comandante de batalhões. Ele vai conversar com o delegado geral da Polícia Civil, vai conversar com o comandante do Corpo de Bombeiros, e daí ele vai me trazer as sugestões daquilo que ele considera importante. Mas ele tem liberdade para montagem da equipe. Isso é regra do nosso governo. Ele traz os nomes, a gente olha os nomes, e a gente em comum toma decisão. Não é assim uma carta branca. Ele tem liberdade de escolha, dialogado com o governador e dialogado com a equipe do do dia a dia do Palácio, para que a gente possa, dessa maneira, coletivamente, ter mais chance de acertar.
Karine Zaranza: O senhor falou também sobre o sistema penitenciário. A OAB já pediu mais de uma vez a saída do Secretário da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque, por conta de denúncias de torturas. E aí eu queria saber como o senhor avalia a atuação do secretário?
Primeiro sobre denúncia de tortura, nós implementamos um sistema estadual de prevenção e combate à tortura. Nós colocamos câmeras com os agentes prisionais e nós estamos colocando câmeras em todo o sistema prisional. Eu já solicitei a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, já solicitei a OAB, e solicito a qualquer pessoa, quem tiver uma denúncia de tortura apresente, porque todas, todas são apuradas. Se tiver indício, investigados. Se tiver comprovação, expulso e responder a processo criminal. Não há uma denúncia que chegue e que não seja assim. E não pode ser diferente. Eu não posso afastar um servidor público porque alguém diz que ele fez tortura. Eu preciso ter processo que dê a essa pessoa o direito dela se defender. Todos os casos, todos os casos que se comprovou, o servidor foi afastado e demitido.
Então não tem nenhuma conivência. Ao contrário, nós damos a garantia. Nós estamos montando uma sala onde as câmeras do sistema prisional estarão em tempo real à disposição do Ministério Público e dos juízes corregedores do Poder Judiciário. 24 horas. Em qualquer hora, alguns, inclusive, vão ter acesso por celular. Nós estamos garantindo a máxima transparência com um sistema de prevenção e combate à tortura, que pessoas do sistema vão poder acessar o sistema prisional a qualquer hora, a qualquer momento, para fazer fiscalização. Da nossa parte, nós temos absoluta segurança que as medidas tomadas são as corretas.
Em relação ao pedido da OAB, nós vamos garantir a prerrogativa de advogados e vamos garantir o controle do sistema prisional.
Wagner Mendes: Então, a intenção é que ele continue?
A mudança de secretaria que eu ia fazer eu já fiz.
Karine Zaranza: Existe uma previsão para colocar essas câmeras corporais nos uniformes de policiais nas ruas?
Na verdade, eu sou defensor da utilização das câmaras. Todo mundo sabe disso. Agora, eu estava aguardando a regulamentação do governo federal. Eu acho que é razoável você ter um padrão nacional. O padrão saiu agora. Com o novo secretário nós vamos discutir o processo de implantação conversando com o comando da PM. Nós temos a ideia por onde conversar. E o governo federal se dispôs a financiar. Agora, acho que nos cabe apresentar projeto para o governo federal poder financiar pelo Fundo Nacional de Segurança Pública e conversar isso com com os policiais militares.
Eu acho que a câmera é uma proteção do policial, do servidor. Eu sou admirador da instituição Polícia Militar. Reconheço nela a importância estratégica para a sociedade, mas agindo dentro da legalidade. Nós temos uma tropa de vinte mil homens. Eu não tenho mil policiais com problemas de procedimento. A maioria dos policiais atua de maneira a cumprir o seu dever. E desvio numa instituição de 21 mil homens faz parte.
Karine Zaranza: Vimos recentemente Ministério Público fazendo algumas denúncias de policiais envolvidos até em atos de milícia, crimes de extorsão, de tortura. O senhor acredita que isso é mostra de que há mais situações punitivas ou está aparecendo mais porque são mais recorrentes?
Não, porque o Ceará é um talvez um dos únicos estado que tem a CGD (Controladoria Geral de Disciplina). O estado do Ceará teve a sabedoria de criar uma instituição fora. Em que essas relações, que são muito profundas e é humano, não se coloquem na hora de investigar, de apurar. Então nós temos a CGD que atua, que apura, que investiga. Agora investiga e apura, faz e confirma fatos em um número pequeno de policiais. Tem policial envolvido com extorsão? Tem. Tem policial envolvido com crime? Tem. Agora, é minoria na Polícia.
Dahiana Araújo: Tivemos alguns episódios que marcam a falta de diálogo entre Governo do Estado e Prefeitura de Fortaleza. Tivemos também algumas disputas de narrativas e eu queria saber do senhor qual é a área que tem sido mais prejudicada por conta dessa falta de diálogo nos últimos meses? Dentro de questões bem práticas de demandas que afetam a população.
Acho que tem duas áreas mais fortes: primeiro a área da saúde. Eu estou, desde que entrei no governo, com um mutirão de cirurgias.
Dia 1º de janeiro de 2023, eu tinha 68.107 pessoas numa fila de cirurgia. Dessas 68.000, eu tenho hoje 8.700. Dessas 68.000, algo em torno de 40% é de Fortaleza. Dessas, 8.700, a mesma coisa. Grande parte delas de ortopedia, e eu tenho um mutirão de cirurgia para fazer. Historicamente, e não tem nada a ver comigo e o Sarto, nós não conseguimos resolver (o fato de) que o estado do Ceará e Fortaleza têm 2 regulações. Era pra ser uma, porque se eu tenho uma vaga no Hospital do Vale do Jaguaribe - que tem gente que ainda fica dizendo que o hospital não funciona plenamente, que parece que não conhece o Ceará, e nós ampliamos muito o serviço do Vale do Jaguaribe - a pessoa podia ir para lá, como pode ir pro Quixeramobim. O estado do Ceará vai sofrer uma profunda transformação, a história do Ceará é o povo do interior vindo ser operado na Capital. O que nós estamos fazendo em 17 anos é que o povo do interior pode vir pra Capital para ser operado, e nós vamos encontrar um momento em que o povo da Capital irá para o Interior para ser operado porque agora tem hospital no Interior.
Eu vejo às vezes um grupo político de Fortaleza reclamar e eu digo assim: você já pensou como era quando o Juraci (Magalhães) era prefeito? Tinha IJF, mas não tinha o Hospital do Cariri, não tinha o Hospital de Quixeramobim, não tinha o Hospital de Jaguaribe, não tinha o Hospital de Sobral. E só tinha o IJF. E sabe quanto é que o estado dava para o governo do Jurassi? R$ 200.000 por mês. Então, agora o IJF recebe R$ 72 milhões, e tem esses hospitais funcionando 100%.
O de Quixeramobim eu estou comprando os equipamentos para abrir também a cirurgia e a traumatologia. A demanda que o interior tinha sobre Fortaleza alterou significativamente. Eu acho que o primeiro é que nós podemos ter muito mais compreensão. A oncologia eu disse que ia fazer 5 nos hospitais regionais. E eu agradeço mais à bancada federal (do Ceará), nós vamos levar oncologia para o estado do Ceará inteiro. Por exemplo, oncologia, o Vale do Jaguaribe hoje atende 500 mil pessoas,e não existia esse serviço e agora existe. Nós podiamos dialogar muito mais para a gente poder encontrar soluções. Agora mesmo, eu estou querendo contratar o Hospital da Universidade Federal do Ceará, e eu preciso que a Prefeitura de Fortaleza autorize. Para quê? Porque eu quero contratar a equipe de ortopedia que tem no hospital da UFC, que são 19, que podem fazer 900 cirurgias por ano. E eu só quero que Prefeitura assine, quem vai pagar tudo é o Estado, ela não vai botar um centavo. Só tem que dizer: concordo que o Estado pague a cirurgia quando você precisa ir para mim, se não atrapalhar nisso, eu já dou por satisfeito.
Dahiana Araújo - E o senhor está esperando essa resposta há quanto tempo?
Eu estou aguardando (risos)... E quero dizer que a impressão que eu tive do secretário de Saúde de Fortaleza, o Galeno (Taumaturgo) é de que a resposta será positiva - pra eu ser justo. Tem uma coisa que eu noto que querem fazer, e infelizmente, eu acho que o Sarto está querendo embarcar, que é tudo virar uma polêmica política eleitoral. Eu decidi uma coisa: eu não vou mais ficar polemizando. Porque eu quero é governar e resolver os problemas, não ficar batendo boca. ‘Rapaz, eu estou com esse problema aqui, bora resolver’, sentar e conversar. O negócio da ponte, o meu superintende de obras chegou e disse que não suportava peso. Eu sou advogado, eu não sou engenheiro, eu confio nele. O que eu disse foi o que ele disse. Se alguém está dizendo isso, alguém está dizendo outra (coisa), vamos chamar um terceiro para encontrar a solução. Não tinha nenhum problema. Mas não é um problema político.
Eu reuni aqui dias atrás para poder a gente retomar a obra da Lagoa da Maraponga e pedi uma pessoa que tenha relações com a Prefeitura para dizer que a gente ia lá visitar, para fazer o levantamento, porque eu quero retomar a obra. O prefeito, alguém vai lá falar com ele, ele ‘faz’ uma matéria no jornal para dizer que… reclamando. Eu quero resolver o problema, só isso que eu quero.
Eu acho que uma outra (área) que a gente sofre muito é com a segurança. A Prefeitura tem um conjunto de guardas municipais. Eu tenho às vezes 600 deslocamentos, por fim de semana, 600 vezes, Polícia Militar vai a um local, e não é porque alguém matou ninguém, ou vai matar, mas porque alguém está com som alto, perturbando o vizinho. A viatura sai 600 vezes para resolver um problema desse tamanho. É evidente que isso aqui eu podia fazer numa parceria com a Prefeitura, Agefis (Agência de Fiscalização de Fortaleza), uma Secretaria de Meio Ambiente e deixar para a polícia tratar do que é grave. Eu podia ter guarda municipal cuidando da praça.
Um sujeito que entrou no IJF, tirou a vida de alguém, não é evidente que a responsabilidade é de todos nós? O sujeito atravessou a cidade com uma arma, se ele atravessou a cidade com arma, a minha segurança pública tem responsabilidade. Ele entrou no JF, não é mais minha. Em vez de tratar, ‘rapaz, o que a gente fazer pra nem entrar no hospital e a gente ter uma fiscalização melhor do sujeito que anda armado na cidade, de ter mais apreensão de arma?’ É pensar em plano de metas, o número de armas ser apreendida. Nós vamos discutir solução do problema. Então, a primeira coisa que foi dita, e eu soube do fato, eu não disse nada. Eu tive que responder uma entrevista porque o prefeito foi dizer que era uma facção que estava fazendo e o Estado não combate as facções e, portanto, o faccionado tinha entrado dentro do hospital para matar uma pessoa. Eu não vejo de quem quer dialogar para encontrar a solução para os problemas. Eu vejo muita vontade de assim: ‘onde é que eu posso criar um problema com o governador? E esse problema vou dizer que a culpa é dele?’ Eu não acho que isso é postura de quem quer colaborar, de quem quer construir.
Wagner Mendes - O prefeito tem dito que não é recebido pelo senhor e que não há parcerias entre a prefeitura e o Governo do Estado. O senhor recebeu solicitação de encontro com o prefeito?
Que tenha chegado a mim que ele procurou uma audiência… ‘Ô governador, o prefeito Sarto está querendo falar com o senhor’. Não tenho. Que tenha chegado a mim, não tenho (informação). [Nunca recebi também – respondeu ao lado de Elmano o chefe de gabinete Nelson Martins]. E eu recebo prefeitos, converso com deputados. Estou completamente aberto. Agora, o que eu não quero é uma reunião que a pessoa possa vir para discutir problema e dizer que eu não resolvi problema. Eu quero discutir os problemas e as soluções para os problemas.
A cidade de Fortaleza tem o histórico de reeleger prefeitos desde que a reeleição passou a ser permitida no Brasil. O senhor acredita que há margem política para interromper um segundo mandato do prefeito José Sarto?
Quem tem que dizer isso é o povo de Fortaleza. Eu aprendi que é bom ter humildade. A única prefeita que conseguiu se reeleger no primeiro turno foi a Luizianne. A Luizianne foi uma prefeita reeleita no primeiro turno. Roberto Cláudio as duas vezes que foi candidato teve dificuldades na sua eleição. O Sarto com uma aliança muito ampla, com o meu apoio, o apoio do PT – e olhe que o ataque o Sarto fez a Luizianne na eleição de 2020 eu acho que foi um ataque absolutamente injusto, incorreto e não verdadeiro com a história da Luizianne, e do que foi o governo da Luizianne em Fortaleza – mesmo assim quase perde.
Quase perdemos a eleição para o Wagner em 2020. Ele tem menos apoio. Ele tem menos aprovação, ele foi testado. Até aqui não tem informação de aprovação. Eu acho que ele tem muita dificuldade. Vai ter muita dificuldade. Mas vai ter o embate político, de debate, discussão, né? Eu acho que a eleição de Fortaleza é uma eleição imprevisível, de resultado. Eu acho que a candidatura que nós escolhemos é uma candidatura muito boa com muitas qualidades. Eu acho que uma pessoa como o Evandro, que foi secretário de Estado, tem experiência de governo, tem experiência política, foi líder do governo Camilo, que viu o Camilo governar, aprendeu as coisas com o Camilo, viu como é que faz. É difícil achar alguém que conheça o Evandro e fale mal do Evandro. Eu não conheço. Até os adversários. O Evandro foi eleito por quase unanimidade na Assembleia duas vezes. As pessoas com muito respeito a ele. E acho que precisa de uma pessoa que una a cidade.
Eu aprendi uma coisa, toda eleição é completamente diferente de outra. Eu ganhei eleição, perdi eleição majoritária, perdi uma eleição no segundo turno e ganhei outra no primeiro. As razões pelas quais eu perdi são muito distintas das razões pelas quais eu ganhei. O contexto é outro. O sentimento da cidade é outro. A eleição de 2024 não terá nenhuma igual a ela. Assim, eu não tinha em Fortaleza a força que o bolsonarismo tem hoje. O bolsonarismo tem uma força eleitoral que nós precisamos reconhecer que existe. Não tinha isso em 2012, não tinha isso em 2016, não tinha isso nem em 2020. Mas tem. Em 2024 tem. Nós temos que reconhecer, e isso é um fator diferenciado da eleição. Nós não tínhamos um prefeito com desgaste que temos hoje. E temos. E nós não tínhamos uma liderança com a força política reconhecida pelo povo, como eu tenho a do Camilo. São fatores todos novos que nós vamos ver no meio do povo a avaliação que o povo fará de todos nós.
Wagner Mendes: O senhor tem uma relação de amizade com a ex-prefeita Luizianne Lins há mais de 30 anos. Ela participou do processo interno do PT na tentativa de ser candidata neste ano, mas acabou sendo derrotada pelo Evandro Leitão. Antes do resultado, Luizianne deu declarações de interferências internas no partido. O senhor tomou conhecimento disso?
Não. Eu tenho informação de muita disputa. De disputa que faz parte da história do PT. Eu estou lhe dizendo o que eu disse a ela, que havia se formado uma maioria em favor do Evandro. Na minha interpretação, eu fui presidente do PT de Fortaleza. E disse: penso eu que se formou uma maioria, mas o partido é democrático. Quem quer fazer a disputa, faz a disputa até o final. E é um direito. Ela é uma pessoa que nós temos muito respeito e eu tenho, não só respeito, uma admiração, carinho, gratidão. E acho que uma questão muito importante para além de uma pessoa que foi prefeita correta, governou o máximo que pode para os mais pobres da cidade, tem sua marca na cidade.
A Luizianne disputou as eleições nos últimos 20 anos e o partido entendeu que precisava ter um outro nome, e acho que isso também é legítimo, é democrático. O que eu defendi no começo é que a base do partido participasse da decisão. Sempre foi assim. Como é que nós decidimos nos últimos 20 anos? Foi prévia? Não. Os filiados do partido votam numa chapa. A chapa tem delegados, os delegados se reúnem e tiram. Tanto é que a Luizianne em 2004 ganhou por um voto. Não era uma prévia, era um encontro, e nós fizemos da mesma maneira, e o Evandro foi vitorioso.
Wagner Mendes: Vai tentar convencer a deputada de participar da campanha do Evandro Leitão em Fortaleza?
Eu quero trazer todo mundo. Eu quero trazer a Luizianne, eu quero trazer os partidos aliados, eu quero trazer gente que era adversário nosso e que pode virar aliado. Eu acho que nós temos que buscar o máximo de forças e a Luizianne é uma força importante na cidade. É uma decisão do processo dela, do tempo dela, mas eu acho que a nossa missão como lideranças é trazer o máximo de pessoas para o apoio ao Evandro Leitão porque eu realmente acho ele a melhor pré-candidatura e o que mais pode fazer de bem pra cidade. E espero que ela compreenda. Do nosso campo, eu tenho uma candidatura do Evandro, eu tenho uma candidatura bolsonarista, eu tenho a candidatura do Wagner, eu tenho a candidatura do Sarto. Bom, se nós não votarmos no Evandro vamos votar em quem no primeiro turno?
Eu acho que o campo progressista da cidade tem um nome que pode não ser exatamente um nome que uma ou outra pessoa queria, mas o nome que a maioria escolheu foi o nome do Evandro, que tem uma história. O caráter, a pessoa que ele é, ainda mais que eu já o conhecia na eleição de 2022. A firmeza dele, a força dele, a condição dele, habilidade de se manter compromissado com o projeto. Porque ele sabia que nós tínhamos um acordo que o nome para governador era a Izolda. Ser leal a um acordo que foi feito acho que demonstra o caráter que ele tinha. Se eu ganhei no primeiro turno, nós divididos, imagina a gente junto com o nome da Izolda? Imagina a Izolda com o cargo de governadora bem avaliada, com todo mundo junto, apoiando o nome dela. O processo demonstrou claramente de que nós estávamos certos. Eu acho que tem gente que tem dificuldade de aceitar que efetivamente, de maneira justa, a maior liderança política do estado é o Camilo.
Karine Zaranza - Governador, para encerrar, qual é o legado que o senhor quer deixar ao final da sua gestão?
Hoje eu só penso em 2 coisas. O legado que eu quero deixar é o Elmano se comprometeu em fazer coisas. E as coisas que ele se comprometeu ele fez. Ele não disse uma coisa na campanha e ao final do governo dele, ele fez o contrário ou não fez. Então ele se comprometeu com o Ceará Sem Fome, em fazer casa, em educação em tempo integral. Ele se comprometeu em oncologia no interior, ele se comprometeu em avançar na questão de cirurgias. Quais foram os compromissos dele em debate? Vamos olhar, fez ou não fez? E o que ele fez tem um corte claro de que os mais pobres foram absolutamente prioridade.