Vitória da ciência

No começo de outubro o mundo presenciou Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna receberem o Prêmio Nobel de Química por desenvolverem um método de edição do Genoma, o Crispr. Além do destaque para a força feminina, e a primeira vez que duas mulheres juntas conquistam tal honraria, é importante ressaltarmos também a importância de tal método e suas aplicações para a ciência e a medicina.

Como especialista em reprodução humana, vejo as possibilidades de uso deste método como incríveis e que prometem revolucionar os tratamentos de doenças de origem genética, já que ele permite recortar os trechos de DNA que interessam e introduzir novos no lugar, reescrevendo a sequência de letras que forma o código genético.

Por exemplo, a anemia falciforme é uma doença muito cruel, que afeta 2% das crianças nascidas na África subsaariana. É uma condição genética incurável que mata 150 mil pessoas por ano e prejudica a qualidade de vida de todo mundo que sobrevive. Com Crispr seria trivial consertar essa falha em um espermatozoide, óvulo ou mesmo um embrião.

Pensar que a ciência chegou a tanto e poderá reduzir o sofrimento das pessoas é realmente uma vitória. Saber que poderemos evitar tantas doenças drásticas e cruéis aos nossos pacientes, é, antes de tudo um valioso compromisso. Nós que trabalhamos com a medicina reprodutiva, sabemos o quanto é difícil para os pais que procuram o consultório querendo planejar um filho, mas temendo que lhes repassem doenças hereditária. Com a edição de genomas, tudo isso terá ficado para trás.

O Crispr hoje está sendo estudado como alternativa para o tratamento da Síndrome de Down, fibrose cística, esclerose múltipla e uma série de outras doenças de origem genética. Ainda há muito a ser feito, mas é importante sabermos que os primeiros passos foram dados.

Daniel Diógenes

Especialista em Medicina Reprodutiva