O que aconteceu com os donos da Boate Kiss? Relembre julgamento
Quatro pessoas foram denunciadas pelo crime de homicídio das 242 pessoas mortas do incêndio na casa de show
Serviços de streaming lançaram duas minisséries sobre a tragédia da Boate Kiss, acontecida em Santa Maria, Rio Grande do Sul, no ano de 2013. Nesta sexta-feira (27), o caso completa dez anos e, mesmo após esse período, nenhum réu acusado de envolvimento no incêndio que matou 242 pessoas foi condenado, entre eles os proprietários da casa de show — Elissandro Spohr e Mauro Londero Hoffmann.
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Além dos sócios, foram indiciados pelo caso o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o auxiliar Luciano Bonilha Leão. Todos foram denunciados pelo crime de homicídio pelo Ministério Público do Estado.
Em 2021, oito anos depois da tragédia, o grupo chegou a ser condenado pelo Tribunal do Júri. Na época, eles foram sentenciados a penas de 18 a 22 anos de prisão. Mas, em agosto do ano passado, o Tribunal de Justiça do Estado anulou a pena e revogou a prisão.
Na ocasião, o argumento foi o descumprimento de regras na formação do Conselho de Sentença. O MP recorreu da decisão. O delegado regional de Santa Maria que conduziu a investigação, Sandro Luís Meinerz, lamentou a demora da Justiça.
Versões das defesas
O representante legal de Mauro Londero, Bruno Seligman de Menezes, afirma que espera que a anulação do júri seja mantida, e que um novo julgamento seja realizado e haja uma sentença justa. Já a defesa de Elissandro Spohr não quis se manifestar.
O advogado de Luciano Bonilha, Jean Severo, disse que a sentença era injusta. Ele espera uma solução até o fim deste ano. A responsável pelo vocalista Marcelo Santos, Tatiana Vizzotto Borsa, declarou que ele segue trabalhando em São Vicente do Sul enquanto aguarda a decisão de tribunais superiores.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul detalhou, em nota, que além dos quatro réus por homicídio, 19 pessoas, entre bombeiros e ex-sócios da boate, foram acusadas por crimes como falsidade ideológica e negligência. Outras 27 também foram denunciadas por falsidade ideológica, porque assinaram documento dizendo morar a menos de 100 metros da boate, o que foi comprovado como mentira.
Como foi o julgamento anulado
Em 10 de dezembro de 2021, os quatro réus no caso da tragédia da Boate Kiss foram condenados por homicídio com dolo eventual. Elissandro, que mandou acender o artefato pirotécnico e "teve a maior imputação", segundo o juiz, foi condenado a 22 anos e seis meses de reclusão. Mauro pegou 19 anos e seis e meses e Marcelo e Luciano, 18 anos.
Carta psicografada
Na sessão de 9 de dezembro, a advogada Tatiana Borsa, representante do músico Marcelo de Jesus dos Santos, usou suposta carta psicografada de uma vítima da tragédia para defender o cliente.
O vocalista teria sido responsável por acender o artefato pirotécnico na boate, o que mais tarde causou o incêndio. Tatiana reproduziu um áudio que seria a leitura de uma mensagem psicografada de Guilherme Pontes Gonçalves, um dos 242 jovens mortos.
No texto, Guilherme isentou os responsáveis pela tragédia, afirmando que eles "também têm famílias": "Ao invés de gastar nosso pensamento procurando por culpados, vamos nos unir em oração".
A advogada contou que a psicografia foi recebida em 2013 pelo Centro Espírita Irmã Valquíria, localizado em Uberaba (MG), seis meses após a tragédia.
'Se for para tirar a dor dos pais, me condenem'
No mesmo dia, durante a manhã, o réu Luciano Bonilha Leão, auxiliar da banda Gurizada Fandangueira, disse que poderia ser condenado, se isso fosse diminuir a dor dos pais das vítimas.
"Tenho consciência tranquila que não foi meu ato que tirou a vida desses jovens. Se for pra tirar a dor dos pais, eu tô pronto, me condenem"
No primeiro dia de julgamento, Luciano Bonilha chegou ao Foro Central aos prantos.
BOATE KISS
Ao todo, o incêndio na boate Kiss deixou 636 feridos e 242 mortos na noite do dia 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria. A tragédia é a maior com número de vítimas da história do Rio Grande do Sul, e a segunda do Brasil. A maioria dos mortos era jovem, entre 17 e 30 anos, e morador do município universitário gaúcho.
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