Empreendedorismo social

Os empreendedores sociais encontram formas de minimizar essas desigualdades pela oferta de serviços ou produtos.

A palavra “empreendedorismo” está associada a alguém que consegue promover mudanças iniciando um empreendimento ou usando a criatividade para imprimir inovações em empresas já existentes. Com o decorrer dos anos, os conceitos associados a essa palavra foram ganhando outras conotações, ampliando o seu significado, bem como a área de atuação dos empreendedores. É o caso do empreendedorismo social.

Enquanto o empreendedorismo tradicional busca entregar valor para atender aos segmentos de clientes, por meio da oferta de produtos e serviços, no empreendedorismo social essa demanda vem de necessidades oriundas da sociedade, que em muitos casos está em situação de vulnerabilidade. Os empreendedores sociais encontram formas de minimizar essas desigualdades pela oferta de serviços ou produtos.

Para exemplificar os conceitos acima, empreendedores sociais podem explorar um problema que afeta muitas pessoas: o lixo. É de amplo conhecimento da maior parte da sociedade os malefícios causados pela destinação incorreta desses resíduos e os efeitos na saúde das pessoas. Porém, com o aumento do consumo e do descarte e manuseio incorretos, torna-se cada vez mais desafiador encontrar modelos que resolvam o problema, além de outros fatores, como áreas adequadas para a destinação correta deste material, o que torna a sua logística uma operação extremamente onerosa para as prefeituras.

Empreendedores sociais podem desenvolver modelos com ganhos econômicos, sociais e ambientais, de modo a minimizar o problema, gerar desenvolvimento e consolidar modelos pautados na inovação. Projetos como esse podem reduzir os gastos que as Prefeituras têm com a logística desse material, além de gerar renda; engajar cooperativas na concepção, produção e comercialização de produtos que serão utilizados pelo município; promover a logística reversa, entre outros benefícios.

Um dos precursores e defensores do desenvolvimento do empreendedorismo social foi o professor Muhammad Yunus, laureado Nobel da Paz em 2006 devido à sua busca incansável de fomentar o empreendedorismo e o desenvolvimento social por meio da concessão de microcrédito do Grameen Bank, instituição voltada ao desenvolvimento de pequenos empreendedores e de outras demandas sociais em Bangladesh. Yunus acredita que os negócios sociais podem provocar alterações mais profundas na sociedade do que os programas assistencialistas, uma vez que colocam o protagonismo em pessoas que, se incentivadas e munidas de condições adequadas, poderão promover mudanças sociais.

Para prosperar, o empreendedor social precisa estar engajado com a causa social. Ou seja, essa conexão pessoal tem de estar ligada aos seus valores, àquilo que ele profundamente acredita, de modo a colocar a energia necessária para que sua ideia saia do papel e cause o impacto esperado. Além disso, é necessário saber engajar as pessoas, ter modelos claros de negócio com indicadores que revelem a mudança social esperada. Em outras palavras, precisa unir a sua vontade e seus valores a estratégias claras de geração e perpetuação de valor.

Rogério Nicolau de Barros é professor da Universidade de Fortaleza e Coordenador do Escritório de Gestão, Empreendedorismo e Sustentabilidade (Eges) da Unifor.